Sunday, December 30, 2007
músicas soltas
Friday, December 28, 2007
Nickelback
Wednesday, December 26, 2007
Viver para Sempre
Monday, December 24, 2007
Um ano bom
2007 foi um bom ano.
Nunca é muito bom viver a vida em períodos, como se isto não fosse um percurso contínuo sem fragmentos independentes, mas dá jeito parar alguns minutos e reconhecer o que foi bom.
Na realidade, não há outra razão para viver que não a acumulação de boas memórias. No fim, tudo terão sido memórias; que peso na consciência!, que desperdício!!, se não tiverem sido boas.
2007 trouxe-me um mergulho com 20 tubarões de três metros durante meia hora. Passei horas e horas debaixo de água a ver as maravilhas de um mundo à parte nos mares mais transparentes. Aprendi a dançar salsa afogado em Mojitos. Subi e desci vulcões. Pesquei à linha num céu limpo até ao dia nascer. Procurei pumas em florestas virgens. Senti-me sozinho no Mundo. Senti-me Rei do Mundo.
Fiquei fluente em espanhol, melhorei o francês e o alemão e já consigo pensar em inglês sem ter de traduzir.
Andei pelo México, pelo Belize, pela Guatemala, por Cuba, pelas Honduras, pela Nicarágua, por El Salvador e pela Costa Rica.
Saí à noite em Nova Iorque, Londres e Lisboa (aqui, em doses desnecessariamente excessivas), para além das capitais de toda a América Central.
Vi, como sempre sonhei, a Cuba de Fidel.
Em 2007 fiz vários amigos de intensidade e intimidade eterna, pelos quatro cantos do Mundo. Emigrei em Outubro e deixei para trás um mundo de boas memórias.
Voltei a acreditar que existem mulheres perfeitas e apaixonei-me duas ou três vezes. (Para além daquelas em que não fui correspondido - mas há coisas piores.)
Em 2007 encontrei um grupo de pessoas com quem partilhei os melhores momentos da minha vida, defini o meu espaço e as minhas prioridades. Comprei mais roupa por minuto do que em todos os outros anos juntos - acho que estou mais vaidoso.
Passei o ano sem carro e, mais de metade, sem emprego. Agora que penso, estive de férias de Maio até Outubro.
Usei o tempo em pores-do-sol na praia, madrugadas em frente ao rio, viagens de jangada por rios castanhos, desamores latinos, percursos de mota de cabelos ao vento e labirínticas travessias pelas mentes dos maiores autores que já viveram.
Descobri mais de vinte bandas que me levantam os pés do chão e nunca devo ter gasto tanta energia a tocar bateria no espaço vazio. Sim, em 2007 deixei crescer asas e tornei-me num videoclip. (Mas ninguém sabe, continuam a achar que estão a falar com uma pessoa.)
Em 2007 descobri que Inglaterra afinal até é uma país do Terceiro Mundo, porque não há outra maneira de explicar que se encontre mais amor e carinho num banco de autocarro em San Salvador do que em toda uma carruagem no metro de Londres.
Seja como for, este ainda não foi o ano em que isso foi suficiente para eu achar que é mau viver num país rico. Na verdade, em 2007 aprendi a dar ainda mais valor ao que tenho e às oportunidades que me foram surgindo.
Este foi um ano de pessoas. Um ano de amizades puras, de corações a bater fortes, de emoções à flor da pele. Um ano de gargalhadas e arrepios.
Em 2007, andei de carro, mota, autocarro, scooter, carroça, comboio, metro, cavalo, tuc-tuc, ferry, lancha, barco a remos, bicicleta com pedais, bicicleta sem pedais, táxis legais, táxis ilegais e, mais do que gostaria, avião.
Também andei a pé - 2007 foi mais um ano sem carro.
Foi, ainda, o ano em que publiquei um livro. Sim, agora que penso, para além de ter arranjado o emprego duma vida, viajado durante quase quatro meses, ter passado seis meses de férias e me ter mudado para Londres, em 2007 ainda tive a boa sorte de ver o meu nome nas bancas da Fnac.
Seja como for, o melhor deste ano foi que andei de olhos bem abertos. Vi mais do Mundo do que alguma vez tinha sonhado ver em tão pouco tempo, e quem conhece o Mundo conhece as suas pessoas.
Sim, 2007 trouxe-me o acesso a muitos corações, muitas alegrias e tristezas, muitas angústias e satisfações.
Um ano muito rico 2007, tão rico que gastei muito mais do que ganhei - felizmente estes últimos dois meses estão a ajudar a equilibrar o orçamento.
Um ano bom. Tão bom tão bom que nem nos seus primeiros minutos, quando estava vestido de Dupont a dar beijinhos a uma Minnie, poderia imaginar que as coisas podiam melhorar.
Que bom.
E o melhor, necessariamente, ainda está por vir!..
Sunday, December 23, 2007
All the time in the World
(Sim; Thom Yorke)
Monday, November 19, 2007
Thursday, October 18, 2007
FignerSnap
Saturday, October 13, 2007
Vacuum Cleaner
De todo o Mundo, chegamos a procura de um lugar no topo. Fatos impecaveis, oculos a condizer, saias pela altura certa, sorrisos verdadeiros e falsos, entusiasmo e curiosidade. Londres, la em baixo. O rio passa cinzento sob a nossa janela. Hoje, com uma luz especial. O primeiro dia "of hopefully a long and successful international career with us"
Pergunto em volta, de onde sao voces, onde estudaram, que linguas falam?; a que lugar chamam casa?
De todo o lado, em todo o lado, todas; nenhum
So tu, Luis, aqui entre nos, é que tens a tua Lisboa, o teu Portugal, o teu ultimo reduto.
E voces nao tem familia, pergunto, e Natais com avos e tias-avos, e arroz de pato aos domingos a tarde? Que e isso?, respondem.
Estamos introduzidos. Somos 25 a procura do tecto do Mundo. Devemos estar perto: ha 100 andares abaixo de nos.
Quanto mais alto o ego, maior a queda.
- So, what's your name, I don't believe I have met you before..
- Oh I am Jiayioo Yieming! And you??
- Luis!
- Nice to meet you Louis! Where are you coming from?
- Lisbon, Portugal. And you?
- Singapore. But well I did my studies in New York and my masters in Paris.
- Oh, I see. I will have a hard time memorizing that name of yours, you know..
- Oh!..Well if it helps, it means "bright light" in chinese
- So it is a chinese name??
- Yes.
- And do you like it then??
- It's allright. Don't you??
- Well yes. It 's sweet. But maybe I would have chosen a different one for you..
- Oh really, which one?
Olho-a por breves segundos e, na amalgama de vozes, vinho, "nice to meet you's" e "I wanna do my second professional rotation in Sidney or New York", a unica verdade que me sai daquela cara abolachada é
- "Vacuum Cleaner"
Resisto a debitar em palavras este enorme disparate que aqueles olhos bem abertos me provocam, calo-me, sorrio para dentro, respondo banalmente "Pretty Princess" à minha nova colega e retiro-me à procura de uma garrafa aberta.
Thursday, October 11, 2007
London Calling
Com receio do deconhecido mas confiante para enfrentá-lo.
Triste, tristíssimo, de rastos, pelo que deixo para trás;
Contente, pelo que vejo para a frente, ainda baço, ainda a meia-luz;
Curioso;
Nervoso;
Com vontade de ficar,
De não ir nunca
Mais
De ser só isto que me satisfaz;
Com vontade de não ser audaz
De não ser curioso,
Irrequieto,
Inconformado;
Sem sentimento fixo,
Só um arrepio a toda a hora;
Wednesday, October 10, 2007
Faking the Books
We’ve been done before
and now we try to forge ourselves
I’ll be true again
But until then I fake the books
Saturday, October 06, 2007
Wake up
pequenas coisas
Noutro dia, um dilúvio bíblico mastigava com dentes de água os vidros indefesos do meu carro e eu aproveitava calmamente o trânsito iluminado daquele já escuro fim de tarde. Mudei de posto e ouvi, pela primeira vez na vida, os Booka Shade repetir naquele tom meio sonhador o para mim até então desconhecido e suave "O Superman...O Superman...O Superman" criado pela Laurie Anderson há mais de vinte anos.
A chuva caía, indiferente aos protestos de meia Lisboa, em bátegas sobre mim e o resto da cidade, e buzinas aberrantes praguejavam contra cruzamentos parados. E eu estava ali, meio adormecido, quase, a deixar-me embalar pela voz de robot com sentimentos que me repetia, ao ritmo da chuva, "O Superman", como se nada mais existisse no Mundo senão aquela pequena paz.
Quase quis ficar para sempre dentro do meu pequeno carro, deixar a chuva inundar a estrada, e depois da estrada os passeios, e depois dos passeios entrar pelas janelas e portas das casas, subir até aos telhados e jorrar chaminés abaixo como um sistema de fontes, e que o meu carro flutuasse pelo novo mar acima enquanto eu voava com o Superman que me entrava pelo sangue, chuva abaixo, rio abaixo, mar abaixo, até ao espaço.
Quando o sinal verde abriu, um braço meio mecânico meio etéreo despertou-me da minha letargia e uma voz quente, profunda, rouca e suave, de mulher, de amante virtual, de Oxigénio, lembrou-me, a mim e aos restantes afortunados que estavam a ouvir o mesmo: "Não se intimidem com os trovões..os trovões..não fazem mal".
Olhei para o rádio, para a chuva que já não me deixava ver nada, para as luzes vivas dos carros e semáforos à minha volta e pensei, quase em alto, no bom que é estar à chuva no trânsito e ter uma locutora de voz sensual sensual a proteger-me dos trovões depois de passear no Espaço com uma música daquelas.
Sorri então, fiz uma vénia às pequenas coisas e voltei a perceber como gosto de estar vivo.
Friday, October 05, 2007
Aspecto
Wednesday, October 03, 2007
Data de Nascimento: ___ ___ ______
Têm piada estas sondagens diárias do LetsSingIt que é o site onde eu vou ver as letras das músicas que ando a ouvir. (Engraçado como cada pessoa tem o seu site onde para ver lyrics, e nunca muda.)
Era o que mais faltava
The National
Friday, September 28, 2007
White is the new stripe
Só vou levar camisas brancas para Londres. E fatos escuros e simples.
Posso usar gravatas cor-de-laranja sem me preocupar com a camisa ser azul. E às riscas, lisas, aos quadrados ou com bolas.
Todos os dias, branco em baixo e o que me apetecer por cima.
O branco nunca mancha nada nem ninguém. Só quem tá transparente na ressaca de um inverno chuvoso e se veste como o Billy Corgan.
Sobre o branco, continua a vida.
Agora, tudo são manchas e nenhuma destoa.
Só o branco é que não dá bem com branco: é tinta de anjo e alguns mortais nunca a chegam a conseguir ler.
Também gosto disto..
pormenores como este...
Pode ser que o passado fique por onde deve estar:
No pretérito imperfeito, já que não é mais-que-perfeito,
Este é um presente que eu aceito
...ou este...
Ocasionalmente cozinho e bebo o meu vinho
E esqueço o fumo que nos dava aquele quentinho
Hoje em dia é mais à base do ar condicionado
Condicionei a tentação num clima controlado
...fazem-me achar que isto...
...acompanhado disto...
Ligo directo para a caixa de correio só para ouvir a
tua
voz,
Sei que é cena fora mas todo o dia chega a hora
em que
o lado esquerdo chora quando se lembra de nós
A vida corre tranquila, cada vez menos reguila
meto guita de parte e a cabeça não vacila tanto
Para minha alegria e meu espanto
Pode ser que o passado fique por onde deve estar:
No pretérito imperfeito, já que não é mais-que-
perfeito,
Este é um presente que eu aceito
Para atingir a tranquilidade
Que supostamente se atinge com a nossa idade
A verdade é que a saudade do que passou
Não é mais que muita...
Mas por muita força que faça ela passa por saber que
te vivi...
Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi
Agora,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de Mundo que eu mudei o meu.
Cada vez que eu ligo tento deixar mensagem
mas acabo por nunca arranjar a coragem
Necessária
Gostava apenas de partilhar contigo o quotidiano
habitual
Nada que se compare com as correrias
doutras alturas e doutros abismos
E já que falo por eufemismos
Gostava de dizer que ainda gosto bastante de ti...
A casa tá diferente, parece digna de gente
Dá gosto sentar no sofá com a tv pela frente
Comprei uma máquina de café
Xpto, bem bonita, azul bebé
Ocasionalmente cozinho e bebo o meu vinho
E esqueço o fumo que nos dava aquele quentinho
Hoje em dia é mais à base do ar condicionado
Condicionei a tentação num clima controlado
Quero que saibas que tou bem, sei que tu mais ou
menos
Sempre gostaste de brincar em perigosos terrenos
Em relação a isso eu não sei o que fazer
E se calhar é por isso mesmo que acabo por não dizer
que
a verdade é que a saudade do que passou
Não é mais que muita...
Mas por muita força que faça ela passa por saber que
te vivi...
Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi
Agora,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de número, eu mudei o meu,
Muda de Mundo que eu mudei o meu.
...é uma óptima companhia para os fins de tarde com trânsito
quando já estou farto dos CD's que andam pelo carro...
...(daqui a uns meses provavelmente vou estar farto da música,
mas com certeza vou continuar a apreciar a letra)...
Thursday, September 27, 2007
Ratatat
"Com todo o respeito.."
Acho-o pedante, amante da ribalta, demagogo, retórico, oportunista e sedento de poder, se bem que obviamente inteligente e desembaraçado.
Basicamente, expresso a minha antipatia política por Santana Lopes (e por todos os outros políticos de carreira) antes de lhe dar os parabéns por esta louvável atitude e dignidade.
É verdade que este homem tem direito ao maior rácio "importância sobre tempo de antena" de toda a vida política portuguesa (excepção feita ao Pacheco Pereira, mas esse pelo menos acrescenta valor ao debate), é verdade que gosta do conflito, que gosta de se vitimizar, que gosta de ser o herói do dia, que gosta da ribalta, que deve estar todo contente por andar a ser clickado no Youtube e que, por certo, está deliciado com toda esta "solidariedade" pública à sua volta, nomeadamente até de uma parte da classe jornalística portuguesa.´
É verdade, portanto, que uma parte do seu comportamento na tal entrevista pode ser visto como populista e oportunista.
É verdade, até, que ele não precisava de ter esperado que a câmara o voltasse a filmar para anunciar que iria abandonar a entrevista - muito mais digno seria despedir-se da jornalista off-the-record e já nem estar sentado no estúdio quando o directo do Aeroporto tivesse terminado.
No entanto, para o que ele fez é necessário um tremendo sangue-frio e uma enorme dose de confiança, porque assumiu - muito à não-portuguesa - uma postura firme e inabalável e ainda para mais abriu uma má relação com um muito poderoso órgão de comunicação à massa eleitoral portuguesa.
Eu gosto de acreditar que, por uma vez na sua vida política pública, o Santana Lopes pensou como Homem e não como Político. E nem me importo que ele tire dividendos políticos disso, pré-meditados ou não. (Eu, em todo o caso, antes voto em branco do que nele.)
Faz falta em Portugal que se assumam posições em público, que se defendam valores e que se proteja a dignidade própria, especialmente em personalidades políticas. Faz falta que alguém se levante e diga "prefiro não falar, do que falar em condições terceiro-mundistas". Faz falta alguém que diga, mesmo que não seja, "Desculpe, mas eu sou bom demais para isto. Vai ter de encontrar alguém pior que eu para vir aturar isto, ou então peça-me desculpa."
Faz falta auto-confiança. (Há quem lhe chame arrogância.)
Faz falta o Mourinho.
Alias, já que estamos com a mão na massa: interessa-me muito mais a chegada do Mourinho do que a luta de poder no PSD.
Sunday, September 23, 2007
Wednesday, September 19, 2007
Que eu saiba...
Mas um deles, que conhece o blog, a figura, e o próprio texto que eu estava a citar, ergueu-se imediatamente e contestou,
A discussão acendeu-se como convinha e o Bill Murray já tinha abandonado a Scarlett em Tóquio quando a conversa ainda nem ía a meio, e depois de muita troca de argumentos o meu amigo continuou a insistir que não poderia saber, hoje, se um dia vir a ser paneleiro.
O engraçado nisto é que o meu amigo - que é um dos meus melhores amigos - é um gajo completamente normal (eu continuo a achar que, apesar de tolerável, a homossexualidade não é "normal")
[Preconceituoso!!!!!!!!!!! Conservador!!!!!!!!!!! Intolerante!!!!!!!!!!! Egoísta!!!!!!! Animal desumano!!!! Neo-liberal!!!!!!!!!!! Fascista!!!!!!!!!!!!!]
(Isto eram os protestos na rua, quando souberam que escrevi esta última frase. Bom. Adiante.)
O engraçado disto, então, como eu estava a tentar dizer, é que o meu amigo não tem nada de homossexual nele, tem namoradas, tem engates, fala de gajas connosco, tudo. E nem precisava de nada disto, bastava estar calado e fechado em casa que nós sabíamos que ele não era gay.
Mas depois de dizer isto, eu fiquei a pensar em tudo. Não na minha própria sexualidade, claro, nem sequer na dele (coitado), mas fiquei a pensar no que leva alguém que gosta de mulheres a admitir que se calhar, um dia, vai gostar de homens.
É que se um jornalista que eu mal conheço admite essa possibilidade, isso não me choca - afinal não o conheço, nem à sua voz, nem aos seus trejeitos, nem ao seu passado.
Mas um dos meus melhores amigos, que nunca deu o menor indício, admitir que apesar de hoje lhe repugnarem os homens, um dia pode vir a gostar? É que ele não disse "Eu não desgosto de homens, mas não me sinto preparado". Ele disse "eu não gosto nada de homens, mas não consigo ver o futuro."
Significa isto que estamos já tão relativizados, tão sem rumo, tão sem certezas e tão com medo de sermos chamado de Conservadores que já nem sequer temos a certeza de que, quando gostamos de gajas, É PARA A VIDA???
Tuesday, September 18, 2007
Blackwater
Pagos pelo governo dos EUA.
Monday, September 17, 2007
Saturday, September 15, 2007
"I'll see what I can do"
P.S. para o leitor desatento: a música é óptima, a letra é genial, mas o que é mesmo mesmo como saltar à corda, é ouvir a música e olhar para a letra ao mesmo tempo.
She came from Greece she had a thirst for knowledge
she studied sculpture at St Martin's college
that's where I
caught her eye
She told me that her Dad was loaded
I said "In that case I'll have rum and coca-cola."
she said "Fine,"
and then in thirty seconds time she said
"I want to live like common people
I want to do whatever common people do
I want to sleep with common people
I want to sleep with common people like you."
or what else could I do?
I said "I'll see what I can do."
I took her to a supermarket
I don't know why, but I had to start it somewhere
so it started there
I said "Pretend you've got no money."
but she just laughed an said "Oh you're so funny."
I said "Yeah?
Well I can't see anyone else smiling in here
Are you sure?
Are you sure you want to live like common people
you want to see whatever common people see
you want to sleep with common people
you want to sleep with common people like me?"
But she didn't understand
she just smiled and held my hand
Rent a flat above a shop
cut your hair and get a job
Smoke some fags and play some pool
pretend you never went to school
But still you'll never get it right
`cos when you're laid in bed at night
watching roaches climb the wall
if you called your Dad he could stop it all
Yeah
You'll never live like common people
you'll never do what common people do
you'll never fail like common people
you'll never watch your life slide out of view
and then dance, and drink, and screw
because there's nothing else to do
Sing along with the common people
sing along and it might just get you through
Laugh along with the common people
laugh along even though they're laughing at you
and the stupid things that you do
because you think that poor is cool
Like a dog lying in a corner
they will bite and never warn you
Look out
they'll tear your insides out
`cos everybody hates a tourist
especially one who thinks it's
all such a laugh
yeah and the chip stain's grease will come out in the bath
You will never understand
how it feels to live your life
with no meaning or control
and with nowhere else to go
You are amazed that they exist
and they burn so bright whilst you can only wonder why
Rent a flat above a shop
cut your hair and get a job
Smoke some fags and play some pool
pretend you never went to school
But still you'll never get it right
`cos when you're laid in bed at night
watching roaches climb the wall
if you called your Dad he could stop it all
You'll never live like common people
you'll never do what common people do
you'll never fail like common people
you'll never watch your life slide out of view
and dance, and drink, and screw
because there's nothing else to do
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
I want to live with common people like you
Aa-aa-ah la la la la...
Oh yeah.
Wednesday, September 12, 2007
Bens a declarar
Thursday, September 06, 2007
Fernando Silva
Um abraco para ti, Fernando!, porque te voltei a encontrar no papel e por seres um bocadinho de Portugal que tambem andou por aqui a solta e que, reduzidamente, tanto quanto uma gota de agua contribui para o oceano, me trazes um cheirinho do nosso pais.
Na varanda de Don Feliciano
Fumo um cigarro de consumo lento num pequeno hotel em Neily. A varanda abre-se para o movimento ja escuro da pequena vila. Ninguem, nos outros quartos; sou o unico hospede deste hotel adormecido, nesta terra de ninguem a caminho de lugar nenhum. Sou, tambem, o unico hospede nos ultimos 20 dias e o unico portugues nos registos iniciados em 1977 que folheio junto a Don Feliciano Musuco, o velho dono de grossas lentes e maos sapudas.
No entanto, assegura-me ele, esteve ca um outro portugues, ha uns cinco anos. "Se llamaba Mota, creo. De apellido Mota."
Mota; eu.
Don Feliciano.
Fumo o cigarro e percorro, observando o lento consumir da cinza fosforescente, os ultimos tres meses. Tambem eles se consumiram inevitavelmente, como o cigarro que seguro com dois dedos adormecidos. Tres meses, mais de tres meses pela estrada fora. Mais de tres meses de outros hoteis, outros cigarros, outros velhos de lentes grossas, outras solidoes. Tantas outras solidoes, tantas vidas consumidas nos campos, montanhas e cidades destes alegres paises destroçados pela historia. Tantas vidas que passaram pelos meus olhos; muitas pelas minhas voz e ouvidos. Algumas pelas minhas maos e o meu corpo.
Quantas, pelo meu coracao?
Todas, talvez, todas, e o seu conjunto forma o mosaico de cores e saudade que sopra levemente sobre o meu cigarro. Inalo de novo e foco a cor viva que quase toca o filtro que seguro com cuidado. Sinto o calor de mais um cigarro que chega ao fim roçar a pele dos meus dedos. Eu, que nem sou fumador.
Apago-o, finalmente, e com ele mais um dia, quase no fim de uma viagem, quase no principio de outra, muito maior.
Volto as costas a rua e dirijo-me ao meu pequeno quarto. É o fim de mais um dia, sorrio, ainda bem que faltam muitos por viver.
Tortuguero
Sunday, September 02, 2007
Um bom site
Entre todas as outras centenas de pessoas com quem falei, talvez dez se tenham cruzado com portugueses durante as suas viagens.
Raras vezes algum habitante centro-americano sabe que Portugal é um pais, e quando alguem sabe, nao faz ideia de onde fica, salvo excepcoes.
A maioria dos centro-americanos que conheci acha que Portugal é o Brasil. Os restantes acham que se fala espanhol em Portugal.
Quando tentam adivinhar a minha nacionalidade, tentam Espanha, Italia e Brasil. Nao lhes ocorre perguntar se sou de Portugal.
Revistei mais de dez livros de clientes de hostels durante esta viagem, e o "Fernando Silva" foi o unico registo de um portugues que encontrei. Aparentemente, ficou hospedado no mesmo hotel que eu em San Pedro de la Laguna, Guatemala.
Fernando, se algum dia leres isto, um grande abraco pelo momento de patriotismo que me proporcionaste sobre o maravilhoso Lago de Altitlan, dois anos depois da tua visita!
Paralelamente, centenas ou milhares de ingleses, irlandeses, holandeses, alemaes, espanhois, franceses, italianos, escandinavos, americanos, australianos, canadianos, neo-zelandeses passeiam-se neste momento pela America Central fora, conhecendo, visitando, trabalhando como voluntarios. Conheci mais turcos, belgas, escoceses, galeses, coreanos, japoneses e polacos do que portugueses.
Estamos, portanto, de acordo com a minha experiencia pessoal, ligeiramente ao nivel da Grecia e do Leste Europeu, no que toca a viagens pela America Central (e acrescente-se que tambem foram raros os portugueses que vi noutras viagens que fiz).
Pelo menos, viajamos mais do que os africanos e os mongois.
Posto todo este deprimente cenario de tacanha mentalidade e depressao economica, é um espanto e um orgulho saber que um site destes existe:
http://www.portugal-sport-and-adventure.com
Ja que nos nao saímos, que alguem nos venha visitar, antes que nos afoguemos em telenovelas e medo do escuro.
Saturday, September 01, 2007
Under blue water
Ha certos lugares no Mundo que sao tao bons que metade de mim quer recomenda-los aos meus amigos, para que possam viver o que eu la vivi, e a outra metade quer mante-los meio escondidos, para que nao sejam engolidos pelo glutao chamado turismo, que os desvirtua e formata.
Desta vez ganhou a segunda metade, e nao vou dizer a ninguem onde e que passei a ultima semana.
Monday, August 27, 2007
Longa jornada
Olho pela janela. Enormes gotas caem continuamente desde manha sobre as fachadas coloridas de Granada. Duas da tarde. Dura noite, ontem, no concerto popular na praca central. Passa o dia, escuro, molhado, humido. Sem cor, sem energia, sem pausa. Passa o dia, devagar; chegam as sete da tarde.
- So are we gonna get on the bus to Managua or not Luis?
- Yeah man. Let's go.
A chuva encharca-nos os corpos amolecidos e cola a roupa à falta de paciencia de ter de esperar por mais um obscuro autocarro . Que nao passa, que nao vem. Vamos ficar naquela rua para sempre. Na realidade, ja estou dormente de tanta agua sobre mim.
Decidimos mover-nos e apanhamos um taxi ate a saida da cidade e comecamos a pedir boleia. Por esta altura, agua e suor misturam-se em farripas indiferentes, ja tao naturais como a roupa ou a mochila.
Pára uma pequena carrinha. La de dentro, olhos escuros penetram-nos criticos. "No lleves los gringos", pedem, baixinho, ao condutor. "Si que los llevo. Subanse amigos, subanse."
Subam. Optimo, subam. "Suban", diz ele, subam para a parte de tras da minha carrinha cheia de gente que nao vos quer la dentro porque vos confunde com o governo do Reagan, onde nao ha um unico metro quadrado disponivel e onde ninguem faz a minima tencao de nos deixar entrar.
- Kevin, man, I say fuck it to these guys.
- Luis, we need to catch the bus today from Managua, I'm not sticking any longer in this town and the next official bus is tomorrow. Plus, it's raining.
- Kevin..
- Go in man!!!
Pego no mochilao e esmago o primeiro vulto junto a porta. E exactamente o que falou com o condutor. Nao me queres ca dentro, cabrao, agora aguenta-te que tambem estas a boleia e nao mandas nada aqui dentro.
Felizmente, todos os outros passageiros tomam o nosso partido e acomodam-se como podem para nos deixar entrar. Somos quatro: o Kevin, eu, e as nossas duas mochilas. Naquele caixote com rodas, sinto o sangue secar por todo o corpo enquanto me esmago contra as gentes do lado. Na Nicaragua, a primeira reaccao ao turista e carrancuda, especialmente se o tomarem por americano. Explico que sou portugues. O Kevin, atraves da sua simpatia natural, demonstra que nao somos agentes da CIA nem estamos aqui para lutar contra guerrilheiros sandinistas dos anos 80. Conquistamo-los. Parecem surpreendidos ao ver gringos simpaticos. Eu tambem me surpreendo por finalmente ver sorrisos na Nicaragua. Ja estava a ficar farto de ser atacado com olhares criticos so pelo mero facto de existir.
La fora, chove a potes, enquanto a nossa lata se demora ate Managua. Chegamos. Finalmente, esticamos as pernas e a imaginacao. Escura a rua onde o nosso condutor deixa todo o grupo.
- Quanto es, amigo??
- Nada.
- Nada?! No, no, algo te pagamos. Toma, 50 cordovas.
- No. Somos amigos. No necesito dinero. Fue un gusto traervos.
Lembro-me do guia marroquino que recusa os dolares do Brad Pitt enquanto uma guitarra argentina lentamente eleva o seu helicoptero pelos ares de Marrocos.
Porque e que nos, "primeiro-mundistas", temos sempre a mania de trocar tudo por dinheiro?
Apanhamos depois um taxi para a estacao de autocarros de Managua. Dez da noite, um obscuro portao abre-se para um parque de estacionamento. "A que hora sale para El Rama?" "A las once." Olhamos um para outro. "We're fine", exclamamos em simultaneo.
Agora so faltam 5 horas num autocarro pestilento com musica aos berros em cima dos meus ouvidos. Acordo a meio da noite, depois de estranhos sonhos com livros abertos e pautas de musica. Tres da manha. Chegamos a El Rama. El Rama e o final da estrada. A partir dai, so barcos, pequenos barcos a motor que nos levam por um castanho rio abaixo, ate ao Caribe.
Passamos as horas com cafes e tortillas partilhadas com Gary, um amigo de ocasiao. Tem 23 anos e nao ve a mae desde que, ha 16 anos, ela emigrou para os EUA para lhe pagar os estudos. Um dia, o Gary vai ser alguem nos EUA. "That's how it works Luis", explica-me o Kevin, "the first generation goes to the States, works their butt of and hopes their kids will be someone in life. My ancestors, when they came fro Ireland, worked on the fucking Panama Canal for years and years until establishing themselves in Chicago."
Passo, obviamente, as duas horas que dura a viagem entre o verde tropical da vegetacao e o castanho do rio, a pensar no sentido da vida da mae do Gary, que nao ve os seus filhos ha anos e anos para lhes proporcionar uma vida melhor. Concluo, quando batem as sete da manha e a boca castanha do rio se abre para um porto degradado onde gente muito escura nos espera junto das suas casinhas de estacas coloridas, que nasci com muita sorte.
Entretido com estes pensamentos, chegamos entao a Bluefields.
Bluefields, Nicaragua.
Bluefields, Caraibas.
Parece que mudamos de Mundo. Ja ninguem sequer fala espanhol. Normal, estamos ja muito longe do outro lado da America Central.
"Hey Kevin, I think that if I was a geographer, or an anthropoligist, or something like that, I would just name the Caribbean a new different continent."
Nao me responde. Esta tanto calor que ele perdeu a paciencia para falar. Faco como ele e adormeco no taxi em direccao ao aeroporto onde vamos comprar o bilhete de aviao que nos vai levar as Corn Islands, no dia seguinte.
Sunday, August 26, 2007
Roberto
- Donde vas, Roberto?
Nao passa nem meio segundo
- A conquistar el Mundo.
Sorri.
Nesse momento, nao tenho nenhuma duvida de que o Mundo e dele.
Friday, August 24, 2007
Ir e vir
Ver a realidade atraves de uma janela de autocarro.
E depois, achar que sabemos e opinamos. De nariz empinado, "estive la e eles...", "acabei de chegar dali e por la...", "nao, repara, eu ja la fui e aquilo..."
E os murais passam, como a guerra passou, e nós so vemos a tinta ainda viva que escorre pelo vidro fora e seca, esborratada, na memoria da uma fotografia desfocada.
E lemos, uma pagina, duas paginas; trocamos alguns minutos de conversa. Lemos todo o livro talvez. Se calhar, passamos uma noite inteira a conversar. E somos, ja, senhores da verdade.
Porque mais ninguem la foi. Porque mais ninguem la vai.
É tao facil parecer inteligente, basta sair de casa e inventar historias.
Tuesday, August 21, 2007
Planos para depois
- Agua de coco! Agua de coco!!
- Tamales, tamales! Tamalitos a cinco!
- Caramelos! Caramelos para los niños!
- Agua de coco! Agua de coco. Permiso. Gracias. Agua de coco!
- Mango, sandia, mango..quantos? A diez son!
- Caremalos a dos cordovas..
-..agua de coco! Dos por diez!
- "Sangwich" de pollo! "Sangwich" de jamon!
- Caramelos! Caramelos de fresa e limon!
- Platanos fritos! Con chile o sin chile? Hum, a tres. Dos? Aqui esta..
- Permiso. Mango, fruta fresca!
E o autocarro continua a sua marcha imparavel pela estrada esburacada fora. Eu suo o calor tropical de uma janela enferrujada meio aberta ate ao limite e admiro o verde-vivo da paisagem e o enorme vulcao que se eleva na distancia. Sorrisos de dentes dourados acompanham a minha apertada angustia, a tshirt que se cola ao corpo, a mochila que me pesa sobre os joelhos. Atravesso a Nicaragua. Pela Panamericana fora.
"Por la panamericana", poderia chamar a este livro de retratos imaginario que me preenche a fantasia. Ultimamente tenho pensado no espectacular livro de fotografias que podia fazer desta viagem. Bastavam para isso duas coisas que nao tenho: uma maquina maior do que a minha Nikon de bolso e a vontade de abdicar das Experiencias para ficar com as Fotografias.
As grandes fotografias so se conseguem tirar quando elas mesmas sao o objectivo do dia, da viagem, da busca. E dificil interagir amigavelmente com alguem num autocarro e depois registar essa pessoa num grande plano. Seria necessario abdicar do respeito dessa pessoa para conseguir tirar-lhe uma grande fotografia sem que se ofendesse. E dificil divertir-me no Estadio Nacional de Tegucigalpa e capturar a essencia dos fanaticos adolescentes que me rodeiam, em imagem. Em paisagens, teria de estar disposto a abdicar de todo um dia para esperar pela hora perfeita, pela luz perfeita.
Um dia hei-de fazer uma viagem com o objectivo unico de tirar boas fotografias. Nao vou procurar viver os momentos, nem apreciar as pessoas e as conversas, mas apenas dedicar-me a Espera e Busca pelo momento perfeito e a imagem perfeita. E que boas fotografias poderia ter tirado nestes dois meses! Expressoes antigas em vestidos coloridos. Sorrisos inocentes de criancas adultas. A chuva que cai sobre uma casa de madeira podre. Carrocas guiadas por velhos agricultores numa estrada esburacada. Verdes vulcoes abencoando um carro de bois.
Mas nao, desta vez procurei apenas viver os momentos e captura-los, toscamente, aqui e ali, numa imagem, para mais tarde os recordar melhor.
"Por la Panamericana". Que belo livro de fotografias ficou pelo caminho.
Friday, August 17, 2007
Southwards
- Tamaño animal!..
E esta a reaccao da velhota que vende peixe no molhe de La Libertad, pequena vila piscatoria no sul de El Salvador e meca do surf no pais. Durante horas perco-me por entre toda aquela quantidade de peixes, tubaroes e ovos de tartaruga expostos para venda mal os barcos sao icados por um pequeno guindaste neste acastanhado porto castigado sem piedade pelas grandes ondas do Pacifico.
Os pescadores, as vendedoras, o cheiro, as ondas desafiadas pelos surfistas, os despretensiosos cafes sobre o mar, as criancas que brincam na praia trazem-me de volta a lugares como a Ericeira ou a costa de Sintra. Mais remotos na minha memoria, mas ainda mais vivos na minha saudade e nos meus sentidos, chegam ate mim naquela tarde em La Libertad os pores-do-sol em que acompanhava, minimo, em pequenos passinhos de crianca obediente, o meu avo ao cais de Sao Martinho do Porto, para ver as traineiras descarregar algas.
- Avo, para que e que servem as algas?
- Fazem remedios com elas, Luis.
- Ah. E porque e que as pesam naquela balanca?
- Porque as dividem em lotes, para as vender depois.
- Ah. E........
Era insaciavel a minha curiosidade daqueles dias, em que o sol desaparecia para la da barra e todo o meu universo se reduzia a mao magrinha do meu avo e ao penetrante cheiro das algas musgosas. Nunca imaginei voltar a recordar essas algas, essas traineiras e esse sol alaranjado tantos anos mais tarde, do outro lado do Mundo, no pais mais pequeno da America Central. Afasto-me com um sorriso so meu, que ninguem podera nunca compreender, como nunca ninguem podera compreender porque e que um tubarao-martelo acabado de pescar me recorda algas e avos altos e magrinhos
Entrei em El Salvador com 4 USD, um cartao de credito desmagnetizado, um cartao de debito que nao funcionava na Guatemala, meia carrafa de agua e um pacote de amendoins. Nessa noite, tive alguma dificuldade em convencer donos de hoteis a deixar-me dormir e pagar apenas no dia seguinte. Tive, tambem, uma ligeira sensacao de fome que nenhum amendoim pode compensar. Felizmente, os bancos ingleses ja chegaram a El Salvador e pude, no dia seguinte, levantar dinheiro suficiente para explorar as maravilhas deste pais tao fascinante quanto pouco visitado. Andei pelas montanhas onde se planta o melhor cafe do Mundo, vagueei por silenciosas cidades coloniais, escalei vulcoes, aceitei convites de almoco e jantar da generosa gente local, perdi-me na loucura caotica de San Salvador e sofri, como tenho sofrido nos ultimos dois meses, o aperto de viajar de pe durante horas em autocarros de escola americanos dos anos 50, cheios ate ao tecto, onde a maior atraccao, para homens e mulheres, sou eu.
Foram tantos os quilometros nestes enormes animais de metal e gasoleo, que ja nao noto nada de novo nas cores com que os pintam por fora, nos desgastados bancos de lona onde 4 pessoas se sentam no lugar de duas, nos sorrisos de toda a gente, nas curvas sobre ravinas, no vento que me levanta os cabelos, no fumo poluente que penetra os meus pulmoes quando estico a cabeca de fora da janela para ver mais um vulcao, mais um traje colorido ou mais uma pequena igreja colonial a beira da estrada.
Desde que entrei na Guatemala, mergulhei de cabeca no meu imaginario da America Central, o imaginario das bananas, das plantacoes de cafe, das gentes indigenas vestidas com cores tropicais, das igrejas amarelas, dos sorrisos genuinos com dentes de ouro, dos vulcoes a cada esquina, das coca-colas em garrafas de vidro e do calor humido do sol do meio-dia. Mergulhei, tambem, no real imaginario dos assassinatos que ocupam as primeiras paginas de todos os jornais, da poluicao, do lixo por recolher, e das vielas escuras e desertas a meio da noite.
Apesar de toda a gente que conheci, de toda a diversao das ilhas por onde andei, de todas as noitadas, de todas as cidades coliniais, de todas as caoticas capitais, de todo o prazer e de todas as dificuldades, a minha maior felicidade, hoje, quase tres meses depois da partida, e ter encontrado tudo o que esperava por aqui.
No meio disto tudo, tive ainda a sorte de me cruzar em San Salvador com o meu grande amigo Miguel Moura, com quem partilhei o melhor bife da viagem. Jantaradas em San Salvador com um amigo de Lisboa. Que Mundo pequeno.
Faltam agora 15 dias para voltar a casa e muita coisa por ver e fazer. Tudo e possivel por aqui.
Pode-se passar 3 meses no meio da pobreza e da genuinidade dos paises, como se pode passar o mesmo periodo de tempo rodeado de turistas em ilhas paradisiacas e uma ou outra cidade colonial arranjadinha como Antigua ou San Cristobal de las Casas. Pelo que tenho visto, considero que e possivel passar 3 meses aqui sem sequer ter nocao da pobreza em que estes paises vivem. Basicamente, todos eles tem dois ou tres lugares tao turisticos e arranjadinhos que parecem pedacos de Europa ou EUA no meio deste caos organizado.
Tento misturar o prazer do mergulho e das cidades turisticas com o prazer da genuinidade de lugares como Huehuetenango, Guatemala City, San Salvador, que pouca gente visita por falta de highlights ou vida nocturna, mas que revelam a verdadeira essencia destes paises tao sub-desenvolvidos.
E um enorme dilema, diariamente, abdicar de sitios cheios de gente de todo o Mundo pronta a divertir-se, em prol de capitais desorganizadas ou cidades poluidas. Mas, se nao fossem essas, mais valia ter passado o verao em Ibiza ou nas ilhas Gregas.
Sem duvida que Utila e Roatan, ilhas das Honduras de onde acabo de sair depois de uma semana de festas e mergulho, enche as medidas a qualquer pessoa com vontade de divertir-se, mas agora que passei por essa semana de verdadeira loucura caribenha, ja tenho vontade de mais autocarros, de mais escapes, de mais comida de rua, de mais espanhol, de mais Verdade.
E por isso, faco-me de novo a estrada, sem muita nocao de destino, na certeza de que tudo o que vier sera bom.