Monday, December 26, 2005

Voices

First Story (Portuguese)

Certa noite, houve uma festa na floresta. Os duendes convidaram anjos imaculados e Santos de dedo espetado, monges cor-de-laranja e sem cabelo, xamãs de olhos revirados, enormes senegaleses de túnicas verdes, fakires de perna cruzada e longos cabelos compridos. Virgens imaculadas com coroas de louro e candeias de azeite, dragões de orelhas pontiagudas, elfos peludos e reis de túnicas púrpura. Vieram gnomos de toda a parte e fadas com varinhas brilhantes que apenas roçavam no chão. Malabaristas chamuscados e um palhaço magricelas com um grande nariz encarnado. Um conjunto de renas trouxe dois seres verdes num trenó de estrelas roxas. Vieram esquimós dos pólos e um índio cor de tijolo; chegaram gémeos siameses presos pela cabeça, montados em capricórnios com caudas de arco-íris, jovens mancebos com patas de cavalo e um bando de homens do Norte, enormes nas suas barbas e elmos cornudos. Traziam o barco aos ombros. Chuveram, de nuvens cinzentas, sereias com longas caudas escamadas e um trote pausado anunciou a chegada mongóis montados em póneis. Do ar, vieram bruxas em vassouras e jovens persas nos seus tapetes. Um encantador de serpentes tocou com a sua flauta toda a noite, embalando na sua dança libelinhas de cristal e um conjunto de gueixas, frágeis como porcelana. Caíu noite sobre a noite, numa sucessão ininterrupta de uma escuridão iluminada pelas labaredas da fogueira monumental à volta da qual todos se reuniam. As altas copas das árvores dançavam densas e abraçadas ao som do festim, em que as conversas se misturaram com a bruma fria da floresta e as canecas transbordaram de cerveja dourada até que o dia não chegou.


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