Sunday, September 28, 2008

Warm in the sun

Ouvi isto no melhor e mais improvavel dos sitios. Foi o concerto mais intimo a que ja assisti. Preciso de ajuda para compreender a frase em bold, que nao consigo traduzir enquanto ouco. É a segunda musica, no MySpace. As letras nao estao na net. Nada disto está na net. É uma pena.

http://www.myspace.com/garethmalonemusic

I don't even know

What you've been through


I don't even know

What eyes you look through


Life ain't so short

I'm pretty sure we'll get it right

The hardest part

Is not to block the sunlight


The song still plays without you

The leaves still change without you


The room remains

Without You


Little One..don't worry about a thing today

There ain't no one you have to tell to

go away

There ain't no wounds

No blood you've got to bathe

it's just warm in the sun

The room still rings with the song you play (?)


The song plays, without you

The leaves change, without you


You're warm in the sun

You're warm in the sun

You're warm in the 


Sun

Friday, September 26, 2008

nao conheco ninguem que nao vá gostar disto

http://www.freemaptools.com/tunnel-to-other-side-of-the-earth.htm
"As tourists, we have reason to hope that the quaint anachronism we have discovered will always remain “unspoiled,” as fixed as a museum piece for inspection. It is perilous, however, to assume that its inhabitants will long for the same. Indeed, a kind of imperial arrogance underlies the very assumption that the people of the developing world should be happier without the TVs and motorbikes that we find so indispensable ourselves. If money does not buy happiness, neither does poverty."

Pico Iyer, "Video Night in Kathmandu"

(nao li o livro. esbarrei com este quote ao seguir um hyperlink que estava nesta entrevista ( http://www.worldhum.com/qanda/item/rolf_potts_revelations_from_a_postmodern_travel_writer_20080918/ ). Tambem ainda nao acabei de ler a entrevista. Mas foi recomendada por uma pessoa de confianca (misterlazarescu.blogspot.com ) 

Tuesday, September 23, 2008

Estes meses de MySpace tem sido para mim como para um bébé aprender a falar (com a diferenca de que eu me passeio pelo MySpace com a consciencia de que algo maravilhoso está a acontecer).

Saturday, September 20, 2008

cut COPY

Tem piada a minha banda australiana preferida tocar no meu lugar preferido para depois da meia-noite de Londres (Koko) dia 11 de Novembro e no meu lugar preferido para depois da meia-noite de Lisboa (Lux) no show a seguir, dia 13 de Novembro. E depois de mais alguns concertos vem ate Sydney.

Andam-me a perseguir, com algum atraso...

www.myspace.com/cutcopy

Wednesday, September 10, 2008

A extraordinaria historia de Antonello Zimtutu

Esta historia foi originalmente publicada no Pheling Diary em Setembro 2006. Pheling é um pequeno arquipelago no Pacifico Sul originalmente povoado por portugueses amotinados de uma expedicao do seculo XVII e dai o texto estar em portugues - o Pheling Diary é uma publicacao bilingue. Ando a procura de edicoes posteriores a esta, para averiguar o aftermath desta história.


Décimo suicida regressa com vida

Foi encontrado ontem no norte do Alaska, num corpo de salmao, o jovem phelinguense que ha dois anos atras tinha saltado para o oceano em Eastern Falls depois de almocar sushi com o seu avo e nao voltara a ser visto desde entao. Segundo o cacador que o encontrou, o jovem "nao mostrava sinais de ataque de predador e estava em excelente forma e com optima disposicao". Mark McMurrow é um cacador de ursos profissional e estava prestes a atravessar um rio numa das regioes mais selvagens dos Estados Unidos, quando "de repente, um enorme salmao saltou pelo rio fora e caiu na margem, levantando-se imediatamente sobre a barbatana." McMurrow conta que inicialmente pensou em disparar mas, quando o salmao - que era, na verdade, o phelinguense Antonello Zimtutu - lhe disse que nao lhe queria mal e estava apenas a procura "do oceano mais proximo", pousou a arma. McMurrow, um veterano cacador e um dos mais experientes guias florestais do Alaska, disponibilizou-se entao para o acompanhar na viagem de tres dias ate ao Artico, tendo abandonado o seu projecto de cacada. No entanto, as autoridades da primeira vila onde chegaram ficaram alertadas para o facto de verem um salmao daquela dimensao a caminhar e levaram Zimtutu e McMurrow para a esquadra local, de onde McMurrow foi libertado pouco depois e Zimtutu, apos, segundo a policia local, "um longo banho de imersao para recuperar o folego", foi interrogado, tendo-se ai descoberta a sua verdadeira identidade.

A historia do jovem - que na altura de fecho da redaccao estava ja, num compartimento estanque geralmente utilizado para transportar golfinhos feridos, num aviao a caminho de Pheling - se nao extraordinaria num arquipelago ja habituado a excentricidades, é pelo menos original: no seu interrogatorio, cuja gravacao foi disponibilizada aos orgaos de comunicacao social presentes numa conferencia de imprensa realizada ad-hoc apos a sessao, o jovem conta que "apos a refeicao com o meu avo, senti um enorme desejo de comer mais e mais sushi, ja nao conseguia conceber o Mundo sem aquilo. Fomos passear para Eastern Falls e eu, quando vi o mar la em baixo, so pensava nos peixes maravilhosos que o habitavam, e senti o impulso de os ir conhecer, e saltei." 

Odisseia Trans-oceanica

Apos "cerca de alguns segundos", Antonello Zimtutu sentiu "o corpo a tremer todo, das barbat..bom, dos pes a cabeca, e quando dei por mim estava transformado numa baleia. Quero dizer, nao sei se era uma baleia pois nao ha espelhos no mar, mas sentia o corpo enorme e dei por mim apenas a comer plankton e a ter necessidade de respirar a tona da agua, por isso penso que fui uma baleia durante uns tempos. Nao sei quanto tempo." Interrogado sobre se nao poderia ter sido um golfinho, Zimtutu garante que "nao, pois um dia fui atacado por tres tubaroes-touro e derrotei-os facilmente, e penso que nao ha nenhum golfinho com dimensao suficiente para isso. Para alem disso, nunca tive necessidade de relacoes sexuais e, pelo que sei, os golfinhos tem."

A historia prossegue, porem, e Zimtutu conta que "percorri quilometros e quilometros sem parar, ate que cheguei a um mar demasiado frio e quase me despistei, ate porque nao consegui interagir com nenhum animal debaixo de agua, por nao falar a lingua deles. A unica vez que senti alguma interaccao foi quando um grupo de baleias-francas me guinchou directamente, e é por isso que penso ter sido uma baleia, possivelmente uma baleia-franca austral".

"A certa altura, estava perdido num mar gelado e, depois de dias e noites sem saber para onde ir nem como voltar para aguas quentes, encontrei uma saida que ia estreitando. Nadei contra-corrente durante alguns dias, mas as tantas, quando a agua ficou mais toleravel, o meu corpo deixou de caber. Nessa altura, voltei a pensar no niguiri de salmao que comi com o meu avo e, nao sei explicar porque, o meu corpo voltou a mudar. Senti a mesma transformacao que ja tinha sentido, um grande turbilhao, e quando dei por mim estava a saltar por um rio acima. E o mais extraordinario é que conseguia respirar debaixo de agua."

Zimtutu conta ainda que "estava acompanhado por milhares de outros salmoes na minha jornada rio acima e, como eles nao me trataram mal, conclui que eu proprio possivelmente seria um salmao. Pelos vistos e verdade. Tem piada que salmao foi a unica variedade de sushi que comi com o meu avo. Acho que foi o destino. Agora que penso nisso, nao compreendo bem porque é que nao me transformei logo em salmao. Talvez o destino quisesse que eu sobrevivesse a travessia dos oceanos." Questionado sobre se alguma vez tinha percebido onde estava, Zimtutu revela que "ao ver a paisagem que me rodeava, de cada vez que saltava fora de agua, e ao reparar em tantos salmoes, ocorreu-me que pudesse estar na Noruega ou no Canada. O Alaska nunca me ocorreu, mas faz sentido."

O jovem contou ainda que sobreviveu a varios "ataques de ursos" e "mais de uma vez tive de evitar anzois de pescadores. Mas isso foi facil, pois como eu sou maior do que os outros, o anzol nao faz grande efeito na minha boca, e sempre que, por engano, engolia um, facilmente o cuspia."

De volta a terra firme

Sobre o momento do encontro com McMurrow, Zimtutu justifica o seu salto para fora de agua com a "enorme vontade que eu tinha em voltar ao mar." Aparentemente, o jovem viu no veterano cacador alguem que o podia ajudar. "Desde debaixo de agua topei logo que estava ali alguem que sabia onde estava o mar. Os outros pescadores nao me inspiraram nunca confianca, ate porque me queriam comer, penso eu."

Antonello Zimtutu, que por razoes obvias ("a minha roupa desapareceu, mal saltei para o mar em Eastern Falls") viajava sem documentos, foi inicialmente processado por presenca irregular nos EUA e ia ser deportado para Pheling. No entanto, esforcos diplomaticos do Ministro dos Negocios Estrangeiros Jonas Mazembe elevaram o jovem a categoria de refugiado, pelo que lhe foi concedido o contentor onde agora viaja. Recorde-se que a Lei Americana nao preve nos seus codigos a possibilidade de apreensao de um peixe por praticas criminosas e, como tal, Zimtutu seria enviado num voo comercial. No entanto, as autoridades phelanguenses, alertadas pelo correspondente do Pheling Diary em Washington, elaboraram um plano de accao e accionaram os mecanismos diplomaticos que permitem ao jovem regressar a casa dentro de agua.

Embora ainda nao seja certa a vontade do jovem, Michael Zintans-Silva, descendente do medico que em 1873 realizou a unica operacao de remocao de escamas de que ha registo na historia de Pheling, esta ja destacado no aeroporto para receber Zimtutu mal este aterre no aerodromo de Granding Island, depois de varias escalas. Recorde-se que, nessa famosa operacao, Antunes Silva limpou por completo a pele de um ilhéu que sofria de pele seca, tambem conhecida, na altura, por "escamosis". Dado o isolamento medico internacional a que o governo de Pheling se auto-submeteu desde 1939, Zimtutu depende exclusivamente dos recursos do pais para a sua metamorfose, embora, segundo um comunicado do Ministerio dos Negocios Estrangeiros, "A vontade do jovem em voltar ao estado Humano ainda nos é desconhecida, mas tudo faremos para lhe proporcionar um regresso pacato e uma reintegracao gradual, tanto em terra como em algum dos nossos rios.". Zintans-Silva é médico ha 15 anos e, apesar da pouca experiencia neste tipo de operacoes, é o medico com melhor preparacao do arquipelago para este tipo de intervencoes.

Algumas comunidades de varias ilhas do arquipelago vao tambem enviar os seus especialistas, em alguns casos curandeiros locais. A operacao devera acontecer no aeroporto, caso seja essa a vontade do potencial paciente.

Familia dividida

A familia de Zimtutu nao quis prestar declaracoes publicas, ate porque o seu avo faleceu pouco depois do alegado suicidio do jovem - na altura, comentou-se que por desgosto - e a familia entende que, "por respeito ao nosso querido pai e avozinho, nao daremos entrevistas", segundo uma nota enviada a nossa redaccao esta tarde. Nas parcas cinco linhas na nota, pode-se ainda ler que "estamos muito felizes com o regresso do Antonello, mas tememos pela sua saude e temos rezado para que a operacao corra bem e para que ele nos reconheca."

Relembre-se que os Zimtutu pertencem a comunidade catolica de Granding Island, tendo ja sido organizada uma vigilia ecumenica, que deverá reunir esta noite devotos de todas as religioes da ilha, incluindo alguns xamas de ilhas vizinhas.

Antonello Zimtutu aterra amanha as tres da tarde e, ate a operacao estar concluida, nao sera eliminado do obituario oficial do Estado onde, recordamos, o jovem foi incluido em 2006 apos o seu badalado suicidio.

Zimtutu foi o decimo e ultimo dos "Suicide-ten", nome pelo qual ficaram conhecidos os dez jovens que tiraram a sua propria vida em Setembro de 2006 no nosso pais, estando-se agora a debater a alteracao dessa denominacao para "Suicide-nine", embora isso possa trazer problemas com a banda de folklore phelinguense com o mesmo nome. Nenhuma accao burocratica devera ser tomada, ainda assim, ate ser feita uma analise medica ao jovem phelanguense que amanha regressa a casa.

Saturday, September 06, 2008

reflexoes de cafe num dia de chuva

Hoje, enquanto lia mais uma pagina de Midnight's Children, ocorreu-me um pensamento que nunca me tinha passado pela cabeca, que foi, pela primeira vez, admitir que o que lemos nos livros de ficcao é realidade e que é por isso mesmo que ler ficcao me da tanto prazer.

É óbvio que existe uma realidade fisica onde estamos inseridos enquanto materia (humana), mas ainda é mais obvio que essa mesma matéria so faz sentido num contexto muito maior, que é o dos sentimentos.

A nossa vida, e a percepcao que fazemos dela, é muito mais rica no espaco dos nossos sentimentos do que no limitado espaco fisico onde nos movimentamos. Alias, nas vidas sedentarias que a maioria de nós leva, a componente essencial da nossa vida desenrola-se no espaco do pensamento, da imaginacao e das relacoes. Sentir, planear, entusiasmar-se, irritar-se, achar piada a alguma coisa - tudo isto sao sentimentos e percepcoes externas ao nosso corpo. Numa vida de estudante numa faculdade ou de trabalhador num escritorio, 'a excepcao de fins-de-semana passados aqui e ali, somos muito mais o que sentimos e pensamos do que o que somos materialmente, na nossa movimentacao rotineira no espaco. Mesmo o acto sexual, por exemplo, no qual a maioria de nós ve uma componente importante da existencia, engloba (quando nao é quase exclusivamente) uma componente cerebral e emocional importante.

A imaginacao joga aqui um papel importante. Nos planos que cada um de nos faz do futuro - e os planos de futuro sao tudo o que nós fazemos com o cerebro, quando nao estamos a recordar o passado ou a dormir - a nossa imaginacao tem liberdade absoluta para delinear e construir aquilo que quiser.

O que chamamos de razao, de facto, obriga-nos a limitar a nossa imaginacao 'aquilo que julgamos fisicamente possivel, mas essa nocao do limite é uma barreira que nós proprios criamos com base naquilo que nos parece o razoavel dentro do nosso quadro de conhecimento - a verdade é que nós somos perfeitamente capazes, se quisermos, de imaginar livremente e sem barreiras do que é possivel e do que nao é. Ao fazermos isso, estamos a entrar num espaco ilimitado de possibilidades, em que cada um de nós cria o seu proprio espaco e a sua propria realidade, como cada um de nós a ve.

Criar estas realidades dentro de nós nao é inverosimil nem sonhador, e a prova disso é que muito do que é fisicamente possivel hoje nao o era ha anos - seculos, milenios - atras. Ou seja, se alguem ha cerca de 1000 anos visse na sua cabeca algo parecido com uma aviao, estaria, de acordo com o quadro de conhecimento da epoca, a criar uma realidade inverosimil e, como tal, poderia ser argumentado que essa pessoa nao estava a projectar uma imagem real. Contudo, como sabemos hoje, estava.

Portanto, concluo, nada do que a nossa imaginacao nos ditar é necessariamente impossivel ou inverosimil, porque existe a possibilidade real (como demonstra o exemplo do aviao) de o que estamos a pensar/imaginar poder acontecer.

Se isto é verdade, entao nao ha razao para os personagens de um livro de ficcao nao o serem tambem. Isto é: por muito inverosimil que nos pareca, um caracter de ficcao pode ser tao real como qualquer outro individuo de quem nos falem.

Quando alguem nos conta a historia de um explorador que subiu o Evereste ha 50 anos, por exemplo, nós sabemos que nunca o vamos conhecer. Para nos, a sua realidade fisica é irrelevante. O que nos interessa na sua historia é o desenrolar da sua escalada, o que ele sentiu, o que aprendeu, o que descobriu e o impacto que isso tem em nos, nos nossos sentimentos, no nosso prazer, na nossa aprendizagem e nos nossos planos.

Um caracter de ficcao provoca-nos precisamente as mesmas sensacoes, se for encarado com esse mesmo desprendimento fisico com que encaramos um personagem de um relato real que nao vamos conhecer fisicamente. 

A diferenca num caracter de ficcao, é que todo o contexto que o rodeia é tambem ficcionado, de modo que ao ler um livro estamos a projectar na nossa mente e no que somos hoje toda uma nova realidade, recheada de novas possibilidades, caracteres, espacos, mundos e licoes. Esse conjunto de novidades é real no impacto que causa em nos e na forma como nos molda. E a verdade é que, fisicamente, nao é menos real do que a historia de Gengis Khan ou de Filipe da Macedonia, porque temos tanta possibilidade de comprovar fisicamente a sua real existencia como a do Coronel Buendia ou de Adam Trask.

Os livros de ficcao criam possibilidades de pessoas e locais que, se sao realidade na imaginacao do autor, facilmente se tornam realidade nas nossas cabecas. E, partir do momento em que sao realidade nas nossas cabecas, tornam-se imediatamente possibilidades reais com possibilidade de impacto real em nos.

Alias, Saleem Sinai, em Midnight's Children, é com certeza muito mais real para mim do que um submarino seria para o Rei D. Afonso Henriques.

Ou seja, dos livros de ficcao podemos extrair inumeras novas possibilidades e exponenciar a nossa realidade muito para la do que nos parece possivel quando abrimos o Google Earth e olhamos o mapa do Mundo em busca de possibilidades.

Acho que é por isso que ler me da tanto prazer: ao ler ficcao, desbravo uma inifinidade de possbilidades - de pessoas, lugares, filosofias, sensacoes - tao ou mais reais do que as que construo e planeio na minha imaginacao durante o dia.

Nao quero com isto necessariamente implicar que, um dia, sera possivel transformar universos literarios em materia (e ainda assim, porque nao?), mas pelo menos penso que é razoavel admitir que a criacao imaginaria que se desenrola na nossa cabeca durante a leitura de um livro de ficcao é tao importante como a observacao racional da realidade fisica, porque ambas causam em nos precisamente o mesmo impacto: despertam os nossos sentimentos e fazem-nos (a nós) viver.

A literatura e os seus personagens só nao sao reais em matéria. Se admitirmos, como eu julgo razoavel, que a matéria é mais um impedimento do que uma condicao necessaria para o desenrolar de uma realidade genuina, cada livro de ficcao é um mapa aberto, e a cada pagina mais caminhos se abrem detro da nossa vida, e por cada novo caminho surgem inumeros sentimentos, e em cada sentimento inumeras possibilidades, e dessas possibilidades extraimos vida.

A prova de que isto tudo é verdade é que, se cada um dos leitores deste texto admitir como possivel o facto de eu, afinal, nao ter estado a ler Midnight's Children, e vir este texto como, por exemplo, "O discurso de Emanuel Piretio Saminio, presidente da galaxia de ciberoceano, no terceiro continente a contar da via lactea", nada do que acabou de ler tem menos impacto por ser o discurso de uma personagem de ficcao e nao o texto real de um blogger que a maioria dos leitores nao conhece e nunca conhecerá. 

El-Gee ou Emanuel Saminio, em Sydney ou em ciberoceano, real ou de ficcao: a questao nao está aí, a questao está no que El-Gee (ou Emanuel Saminio) diz e pensa, e no impacto que isso tem no leitor e na construcao do seu proprio caminho.

Friday, September 05, 2008

the sailor song

É imoral a quantidade de tempo que passo de myspace em myspace, a ver o que se anda a fazer de musica pelo Mundo fora. Salto de um para o outro, "open new window", agora vamos ao youtube, control+tab para o Wikipedia, quais sao as influencias, quem sao as bandas amigas, em que salas de concerto tocaram, depois vou ver as salas de concerto, e ver que artistas tocam nessas salas, e mais myspaces, e mais youtube, e blogs de musica, de um para o outro, e google e yahoo, e dou por mim com quatro janelas abertas e quatro bandas e eu a saltar de uma para outra, "pause" aqui, "stop" ali, "isto é uma merda!", "eh pa isto nao e mau", "bem estes gajos so tem uma musica boa".

E por ai fora. Ha milhares de bandas a solta, milhares, cada uma com o seu grupo de fas e com comentarios bajuladores das salas de concerto e dos agentes que as promovem. Hoje em dia, o que ha uns quatro ou cinco anos era sinonimo de alguma qualidade (o "The") passou a ser tao banal como 50% do universo de musica rock (e mesmo popalhada) que se produz.

A mim da-me gozo este processo de saltar de banda em banda, ler revistas, ouvir recomendacoes de amigos, ir investigar, ir a concertos, vir a casa ouvir as musicas. Isso tudo.

O pior desta oferta brutal de musica (gratuita) que temos hoje em dia é que a maioria nao me interessa.

No entanto, ontem dei por mi a ouvir The Gadsdens e gostei imenso. Cheguei la porque estava a passear-me pelo MySpace de uma banda qualquer (que depressa se tornou irrelevante) e havia la um comentario de uma "Luisa" do Porto. Fui ao MySpace da "Luisa" e ela tinha la The Gadsdens a tocar. Nunca tinha ouvido falar disto, mas parece que tem feito umas coisas em Londres ultimamente. (A quantidade de Historia que se faz em Londres debaixo do nariz da maioria dos Londrinos enquanto eles se embebedam é assustadora).

Foi a unica banda que me agradou verdadeiramente desde Delta Spirit (e ja me PERDI em musicas). Nao entro em qualificacoes absolutas (de bom vs. mau), mas gosto disto:

www.myspace.com/thegadsdens

http://www.myflashfetish.com/mp3-search.php?query=gadsdens&eng=0

questao

Ultimamente tenho andado a questionar-me se os melhores veterinarios nao deveriam ser os que sao vegetarianos?..

Monday, September 01, 2008

hardcore soft-porn

Demorei nove anos a aperceber-me da existencia deste verso. 

It's the edge of the world
And all of western civilization
The sun may rise in the East
At least it's settled in a final location
It's understood that Hollywood
Sells Californication

Que mais bons misterios esperam, pacientemente, por serem desenterrados do canto de um iPod ou debaixo de um tapete?



MusicPlaylist

Compras

I.

Hoje paguei mais 50% por galinha "free range". 

Claro que nao faco ideia do que é.

Cheguei a caixa e, meio a medo, sorri para o Mustafa (Sydney tem muitas semelhancas com Londres) quando ele pegou nos peitos da galinha. Ele sorriu de volta ao passar a etiqueta pelo laser. Free Range Chicken, $9.42. E ele a rir-se. (Ou se calhar estava so a sorrir. Quem sabe a imaginar um caril, onde eu so vejo um bife grelhado.) Num susto esquizofrenico, desculpei-me.

- Sou a favor da liberdade, Mustafa.


II.

Ele olhou-me de olhos muito abertos, meio confuso, e, ja com o pao organico multi-graos na mao, abriu-se num sorriso engasgado com um dente espetado de fora. Nao faz, claramente, ideia, nem ele, do que é galinha "free range".

- Eu tambem! Por isso e que vim para ca. Nao ha liberdade no meu pais.
- Olha, no meu ha, e ninguem sabe o que fazer com ela.
- Acho que aqui tambem nao.
- Eu tambem acho.


III.

Passou os cereais pelo sensor. Special K Forrest Fruits. $4.53.

- O total sao $34.45 se faz favor.
- Obrigado. Tome.
- Tem cartao de cliente?
- Nao.
- Aqui está, 55 centimos de troco.
- Obrigado!
- Boa noite!
- Boa noite.


(IV.

Se era para a cozer desta maneira, com courgettes e couves de bruxelas, sem sal nem pimenta, mais valia ter comprado galinha de aviario.)