Thursday, January 25, 2007

Manhã em Lisboa

Está uma luz transparente em Lisboa. O Sol reflecte-se nas pocinhas de água e chapinha nas imagens que saltitam em gotas. Mil pessoas multiplicam-se em fragmentos de luz, e espalham-se pela calçada reluzente a cada passo molhado de quem passa. Um frio sem vento absorve os passos e as poucas nuvens, e funde-se com os raios abstractos que iluminam amarelados todas as avenidas. Nos carros vemo-nos ao espelho antes de desaparecermos e surgirmos de novo no próximo charco, na próxima porta metalizada. O castanho dos sobretudos ensonados funde-se com as copas despidas das árvores, algumas amarelas, como o movimento dos táxis que passam. Não há cinzentos hoje, nem em mim nem nas tímidas nuvens, que já fogem amedrontadas, assustadas com esta manhã luminosa.

4 comments:

Anonymous said...

E é de manhã luminosas que todos precisamos!
Adoro olhar para as poçinhas e ver o reflexo do sol... faz-me andar para trás no tempo e ter voltade de me atirar para a poçinha...chapinhar tudo à minha volta. Ficar cheia de lama e com um grande sorriso maroto nos lábios! Que saudades!!

Carolina* said...

Hoje a minha avenida recebeu-me com dois arco-íris, um tímido atrás do outro exuberante!! Como se com uma subtileza insistente me quizesse arrancar um sorriso a qualquer custo!
Esquece-se que bastava o primeiro!

daniela said...

É bom acordar e sentir que "não há cinzentos hoje".

Eu costumava ter medo de manhãs luminosas, tal como tinha medo das luzes da cidade, à noite.
Mas agora " já não há cinzentos em mim."

Que haja muitas mais manhãs luminosas dentro das nossas almas, porque é isso que realmente importa e não se o céu está cinzento ou não.

*

m said...

muito poético o senhor el-gee!
gostei.