E é nesse momento em que o Mundo parece desabar à tua volta que rodopias sobre a tua cintura e cortas o espaço de lado a lado com o teu tronco, dobrando-te num agachar tão violento que nenhuma das árvores que cai te esmaga a vontade, nem os blocos de cimento que se despedaçam no chão em teu redor te acertam, nem aquela massa de água que se revira em espirais assassinas te engole dentro de si.
Não compreendes como te escapas daquela destruição sufocante que engole todos os que fogem à tua volta. Dono do teu corpo, contorces-te em todos os ângulos de borracha e carne crua com aquela vontade tão tua de agarrar a vida. Um a um, vê-los a ser levados pela maré destruidora dos Elementos, e quando o vento finalmente pára de ladrar a sua ira assassina e a água pousa num horizonte de calcanhar, estás de pé com os braços no ar, arranhado pela tua luta.
Um mar de destroços e vapores de sangue e lágrimas rodeia a tua vitoriosa conquista, tu, esse frágil pedaço de Vontade, que só querias um jardim à beira-mar.
Tu, rei e senhor desse Mundo de destroços, que davas tudo por um abraço e agora estás sozinho numa luta sem adversário.
7 comments:
Primeirinha a comentar!!!!
Penso que foi a melhor solução encontrada para este tipo de texto porque isto é um texto e não um poema.
Gosto com sinceridade das tuas palavras que cada vez mais são bonitas apesar do assunto por vezes não ser o mais agradável.
Nao sei se estou certo mas ontem foste correr?
esta tua belíssima prosa leva-me de regresso a um fictício passado casapiano!
fizeste-me lembrar do "velho e o mar"...e se bem me recordo, a luta foi longa, dolorosa, quase desumana...mas no fim a vitória merecida, foi efectivamente reconhecida...e há-de sempre lá estar aquele abraço!
Luis,
O dia do fim da Incerteza vai coincidir, muito provavelmente, com o do teu último suspiro neste Mundo.
Usas e abusas dessa palavra que, para mim, está muito longe de te atormentar, bem pelo contrário.
Correct me if i'm wrong.
(Qdo li o post tive um dejà vu com Os Lusíadas, naquele canto em que Camões narra o episódio do Adamastor! Ou tu estás a escrever cada vez melhor ou o meu Alzheimer chegou antes do tempo...)
Hemingway, Camões..não vou nada mal!!
Aht, tem piada a tua referência ao ir correr. Eu quando escrevi isto tinha uma certa ideia na mente e claramente este texto é metafórico, mas não está relacionado com o correr, embora pudesse estar.
Tem outras motivações.
Sofia, a incerteza atormenta-me sim, mas no sentido do desafio, mais do que do sofrimento. (E obrigado pelo elogio, espero q n estejas com alzheimer)
Se nao tem nada a ver com uma corrida diaria o principio da noite, calo-me.
Mas cola muito bem.
Eu visualizei
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