Friday, March 30, 2007
Um Certo Olhar
Wednesday, March 28, 2007
Sometimes..
I think that I'm bigger
Than the sound
- Luís
- Hum?
- Que é que tas aí a fazer em cima?
- Eh pá nem dei por isto! Pera aí já desço!
- Mas tas aí a fazer o quê pá?
- Ouve, tava a ouvir aqui uma musiquinha e dei por mim tava para aqui a esvoaçar.
- Mas tu voas como, pá?
- Ahn?
- Luís!!
- Ahn!!
- Tira a merda dos fones do ouvido pá!
- Não posso!
- Não podes porquê??
- Senão caio!
- Eu agarro-te!
- Agarras o quê pá! Tou magrinho mas ainda peso!
- Tu tas a dar em louco Luigi. Onde é que já se viu um gajo a levitar por cima da secretária no trabalho?
- Realmente tá na hora de eu descer tá.
- Não tinhas uma reunião às duas?
- Já são duas??
- São cinco da tarde pá!
- Cinco???
- Sim!! Mas ouve lá já ouviste isso quantas vezes?
- Não sei, tá no repeat!
- É o quê, já agora?
- Yeah Yeah Yeahs
- Não sejas infantil pá
- Infantil?!
- Sim isso é só barulho!
- Meu Deus. És louco. Fica aí em baixo que eu vou mas é voar para outro lugar.
E nisto, saí pela janela.
Monday, March 26, 2007
Fresh Air
Bette Davis eyes
Mudo o botão do Off para FM.
Her hair is Harlow gold, her lips sweet surprise.
O que fazem os anos 80 a convidar-me a ter uma boa semana? Uma Kim Carnes de 1981 não pode ser a primeira música desta segunda-feira.
Que neura!
A água fica quente e ela continua. Her hands are never cold.
A água acorda-me finalmente.
She’s got Bette Davis eyes.
Bette Davis eyes. Há anos que ouço esta música e nunca me dei ao trabalho de saber como eram os olhos da Bette Davis.
All the boys think she's a spy, she's got Bette Davis eyes.
“Tinham de ser lindos”, penso quando saio do duche.
E, mal chego ao trabalho, vou à procura deles.
Cá estão.
Os olhos da Bette Davis.
Friday, March 23, 2007
LUXo ou simplicidade?
Hoje foste sair com eles todos. Chegou Junho e os teus amigos que vivem fora vieram passar alguns dias a Lisboa. Os que vivem cá já andam em altas e vivem as madrugadas até o sol os avisar de que ainda falta dormir umas horas até voarem de cabelos ao vento até à praia no dia seguinte.
Ultimamente, a cidade anda fresca mas aconchegada por aquele solzinho de verão que já mostra os ombros queimados daquelas brasas que são as lisboetas. Tens-te pirado cedo do trabalho e aproveitas os fins de tarde nos miradouros a trocar boa disposição com quem te quiser ouvir. Adoras olhar em volta e ver aquela quantidade de pessoas de chinelos e roupa de praia, com os cabelos desgrenhados de quem ainda não tem as tuas responsabilidades. Mas não tens inveja: também já foste assim, e aproveitaste à grande o teu momento. Além disso, já sabes que sábado és tu que vais passar o dia na praia, e o fim de tarde a virar Bohemias geladinhas. Ou sangrias. Não te importa.
Mas agora é sexta. É sexta e, num torpor de músculos aos pulos, recordas a jantarada com os teus melhores amigos, todos juntos a rir ao ar livre. Cheira-te a manjerico e a sardinha assada. O dia já nasce, sabe-lo, porque acabaste de o ver nascer na varanda do andar de cima. Estavas acompanhado, e bem. Mas agora estás sozinho.
Estás sozinho na pista de baixo e voas entre cá e lá, já a suar um dia de praia cheio de gatas e mergulhos no mar. Olhas em volta e vês o teu melhor amigo a rodopiar sobre si, ele que aterrou há menos de um dia, se calhar só para viver esta hora na pista de baixo. Está maluco. De olhos fechados e mãos no ar.
Não é só ele. Tu e todos os outros também se soltam e ouvem um somzinho que vos entra bem dentro e vos levanta do chão numa espiral de madrugada. Estás num momento só teu e não há olhar que consiga compreender-te naquele momento.
Quando a pista fechar, vais ouvir as vozes que se levantam e olhar as outras caras a acordar da loucura que partilharam. Dás um abraço ao teu amigo e dizes-lhe como adoras que ele esteja em Lisboa. Saem os dois e o rio amansado manda uma brisa fresca que limpa o calor que vos mancha as t-shirts.
- Ouve lá, tens dinheiro pó táxi?
- Tenho. Depois dás tu boleia pá praia.
- Tá bem! Tão bora!
- Pera aí, pera aí!
- Quéque foi?
- Aquilo não são as bifas de há bocado?
- São!
- São boas pá!
- Realmente a luz do dia não as estragou..
- Eram daonde as gajas?
- Alemãs acho eu.
- Hum..
- Hum…
- Hey! Do you need a ride home?
Como gostas de Junho em Lisboa!..
Wednesday, March 21, 2007
Prostituindo-se
É o maior mistério da minha vida e estou a anos-luz de resolvê-lo, até porque, por princípio, não me parece que vá algum dia cair na tentação de pagar a uma brasileira de 1,85m para me responder à pergunta com uma aula prática de 300 Euros.
Consigo compreender as motivações para o suicídio, para o assassínio, para o roubo, para a auto-mutilação, até para o espancamento de um ser amado, para a fúria, para a inveja e o ciúme. Compreendo as motivações para o prazer, a gula, a luxúria. Até percebo o gosto em andar de avião que algumas pessoas têm.
Mas vender o corpo? Uma mulher bonita e que não precise do dinheiro por uma mera questão de sobrevivência?
A Mulher. Esse ser desejado por todos os homens.
A Mulher, se se souber fazer bonita, arranjada, limpa e atraente, é senhora de todo o poder do Mundo. Uma mulher atraente consegue tudo da maioria dos homens, apenas insinuando a possibilidade de uma futura troca de carícias com ela.
Um sorriso de dentes direitos compra polícias de trânsito, ganha lugares em filas de supermercado, recebe descontos, troca camisolas sem talão. E isto só para começar. E isto só para lembrar exemplos em que o homem subtilmente corrompido nem sequer vê a mínima hipótese de sexo em troca. Basta-lhe o sorriso e a dúvida com que vai para casa: “Será que se eu tivesse insistido, acabava nos lençóis dela?”
Essa mesma mulher atraente sobe lugares na escada da empresa, do partido, do grupo de amigas, do grupo de amigos, da turma da faculdade. Esses, mesmo que não queiram, não se apercebam, ou não admitam, estão sempre pendentes de uma remota possibilidade da sua reverência ser um dia recompensada com uma noite secreta de loucura. Uma mulher atraente conquista uma sala quando entra, e é tratada com mais carinho e com mais respeito do que as outras. Uma mulher atraente sabe como é olhada, e sabe como usar a sua aparência para conquistar os homens e as outras mulheres.
E o seu poder – ignorando aqui que pode ter mil e uma outras qualidades – sexual advém directamente da sua aparente inacessibilidade. De ser uma princesa linda e senhora de si, fiel guardiã do seu segredo mais desejado: a sua Sexualidade.
E quantas – quantas!! – mulheres lindas, que podiam passear a sua magia pelas quatro praças do Mundo se fossem dotadas de alguma cabeça, vendem esse maravilhoso prazer da sua cama (e do seu amor?) por umas centenas de Euros, todas as noites, durante anos das suas vidas, cedendo os seus corpos de fadas voadoras a desconhecidos brutos e feios?
Penso na fácil acessibilidade de possuir a mulher da minha vida por umas míseras notas, e toda a minha Razão se inverte. “Mas afinal” – penso – “afinal como é que elas são tão poderosas, se são tão baratas e acessíveis?”
Afinal, como podem duas mulheres iguais ter tanto diferencial de poder, uma talvez senhora do Mundo, outra uma prestadora de serviços acessível por baixo preço?
E nós, homens, seremos nós burros ao ponto de não compreender que não devemos ceder, nem por um momento, nem na fila do supermercado nem na reunião de trabalho, à mera aparência física, porque essa está acessível quando quisermos e em qualquer lado, a baixo preço?
Não. Nós, parecendo que não, sabemos bem a diferença entre a prostituta linda e a mulher linda. Nós sabemos bem que – apesar de sermos cegos pela noite com ela – a noite paga sabe a carne, apenas, e a noite sacada a ferro e fogo sabe, pelo menos um bocadinho, a desafio, a conquista, a vontade mútua, a auto-estima, quem sabe a amor. E cega. A noite conquistada cega-nos, por vezes.
E quem diz noite diz noites, ou dias, ou quanto tempo for, fazendo o que quer que seja. Por vezes, nem necessita de ser noite. Basta um beijinho. Basta saber-nos no bom caminho, na conquista daquele coração inacessível.
E então eu passo na rua, e abro revistas, e ouço histórias, de princesas encantadas por quem meio Mundo dava dois dedos e mais algum, que trocam essa sua maravilhosa dádiva por um par de sapatos novos ou umas calças de marca, ou até por um novo apartamento, e deprimo-me de novo.
Lindas de morrer, donas de qualquer homem com meia medida de masculinidade, vendem-se ao primeiro que aparece, ficando para sempre rotuladas a esse lote tão bem definido que são as Prostitutas, donas de todos os prazeres e carentes do segredo que perderam e que – qualquer um de nós se apercebe, quando as vê passar – jamais recuperarão.
E são nesses – e noutros – momentos de lúcida dúvida, que, apesar de atormentado pela questão essencial da princesa que se vende, compreendo quão pouco vale a aparência da Mulher, porque é tão fácil de comprar.
Nesses momentos apercebo-me do ridiculamente sensível que o Homem é a estímulos sexuais de mulheres lindas e compreendo então que a verdadeira beleza da Mulher está nela própria.
Desisto de me atormentar com o poder das mulheres lindas e com as razões da sua prostituição, e fico só na minha contemplação descomprometida da beleza da Mulher, da sua sensibilidade, das suas manhas, da sua graça pé ante pé, do cuidado consigo, das suas conjecturas labirínticas por um objectivo que nenhum homem alguma vez discernirá, pela sua batalha nas pequenas coisas, pelo seu olho atento ao pormenor.
E nesse momento tenho uma pena miserável de todo e qualquer Homem que compre o sexo de uma prostituta ou ceda ao mero indício de um corpo bem formado, e alegro-me por aqueles que sabem ver para além dessa carnalidade incontida do sexo fácil e saibam amar – mesmo que furtivamente, mesmo que por uma noite só – qualquer Mulher como ela é.
Monday, March 19, 2007
Sobes?
Uma vez lá dentro, eu, que gosto tanto de andar de elevador como de andar de avião – zero - ao ver o elevador a encher indiscriminadamente com gordos e gordas, pedi licença aos meus prezados colegas e saí porta fora.
Olharam-me com o ar espantado de quem acha que os elevadores a abarrotar alheiras e cozido à portuguesa são a coisa mais segura do Mundo e, quando finalmente me esquivei daquela massa humana enfiada num cubo de metal e me pus à porta à espera do próximo – numa cena que eles devem ter julgado de louco – houve um que me perguntou, com a máxima cordialidade:
- Então Luís, não vens??
E eu, aliviado por ter fugido à morte certa, olhei-o com aquele ar arrebitado de herói em decadência e respondi, palavra por palavra, debitando jocosamente cada letra da afirmação na segurança viva dos meus 70 kilinhos:
- Deixa tar pá. Prefiro ir num que não caia.
E foi vê-los arregalarem os olhos de pavor quando olharam em volta para a quantidade de iguais que se apertavam naquele espacinho, e esganarem-se por um lugar cá fora, enquanto a porta se fechava, devagarinho, encafuando-os naquela sardinhada de vapor, ao som das minhas gargalhadas divertidas.
Friday, March 16, 2007
Sítio certo à hora certa
Felizmente, a meio de Maio acabou-se o fatinho por uns meses. (Infelizmente, meio de Maio é também quando eu desapareço durante uns meses.)
A Primavera em Lisboa, independentemente do que é A Primavera em Lisboa Para Um Gajo Que Trabalha De Fato Dá-se Mal Com O Calor E Vai A Pé Para O Trabalho, é o que mais se aproxima do desacertado cliché o sítio certo à hora certa.
A Primavera em Lisboa é a coisa mais parecida com Dance with Me dos Nouvelle Vague.
A Primavera em Lisboa tem os primeiros raios de Sol a rir bem disposto nas águas calmas do rio e quando chega, – arrebitada, sem aviso – bate à porta dos lisboetas e diz-lhes:
- Meus amigos, vocês que não se andam a divertir que nem uns loucos como o Luís, acordem para a vida e ponham-se na rua, porque já soa um baixo naquele barzinho curtido, e os mojitos estão a metade do preço.
E vocês, que andavam aí já malucos por este calorzinho que a mim tanto me mata como me alegra, vão ouvir o que ela tem para dizer com toda atenção, e quando a Primavera acabar a frase já estarão a dançar sem amanhã nas vielas de bairros antigos.
E eu, que também ando por aí, vou ser o mais contente desse bando pacatamente alegre que são os lisboetas quando chega a Primavera, na plenitude do seu cheiro a flores e a cevada triturada, mãe de um verão que não chega e justificação para as primeiras loucuras do mergulho no mar que se avizinha.
Wednesday, March 14, 2007
A razão pela qual a barra verde do lado se arrasta pelo chão do blog
Está a ser um daqueles dias em que as Pequenas Coisas me dizem:
- Luís, caga nisso, hoje estamos aqui para te foder os cornos. O melhor mesmo, Luigi, é ires dormir.
E eu, como não sou casmurro, acho que - depois de acordar sem camisas lavadas no armário, chegar meia hora atrasado à reunião da manhã com a camisa de ontem após me enganar em três edifícios até encontrar o certo, passar a tarde desconcentrado, ter o carro bloqueado pela Emel, esperar meia hora por eles só para ouvir que precisavam dos documentos para me desbloquear o carro, ir a casa a pé buscar os documentos, voltar de táxi, esperar outra hora e meia por eles até às dez da noite, desmarcar um jantar por causa disso, pagar 60 Euros pela multa e desbloqueamento, chegar a casa e destruir sabe-se lá porquê o template do blog, e reiniciar 3 vezes a MERDA do computador apenas para ver que quando finalmente ele se ligou em condições o rato não funcionava - vou mas é para a cama.
- Amanhã é outro dia, seus cabrões! E amanhã o fodido vai ser um de vocês!
Amanhã.
She's laughing like a choir girl!!
She's laughing like a choir girl!!
She's laughing like a choir girl!!
When she doubles over sounds like HALLELUJAH!
Amanhã vai ser o MEU dia!
Cold War Kids
Mau ou bom,
Cold War Kids.
Pelo menos alguma coisa boa ficou da guerra fria,
Tuesday, March 13, 2007
Camélias e incertezas
E é nesse momento em que o Mundo parece desabar à tua volta que rodopias sobre a tua cintura e cortas o espaço de lado a lado com o teu tronco, dobrando-te num agachar tão violento que nenhuma das árvores que cai te esmaga a vontade, nem os blocos de cimento que se despedaçam no chão em teu redor te acertam, nem aquela massa de água que se revira em espirais assassinas te engole dentro de si.
Não compreendes como te escapas daquela destruição sufocante que engole todos os que fogem à tua volta. Dono do teu corpo, contorces-te em todos os ângulos de borracha e carne crua com aquela vontade tão tua de agarrar a vida. Um a um, vê-los a ser levados pela maré destruidora dos Elementos, e quando o vento finalmente pára de ladrar a sua ira assassina e a água pousa num horizonte de calcanhar, estás de pé com os braços no ar, arranhado pela tua luta.
Um mar de destroços e vapores de sangue e lágrimas rodeia a tua vitoriosa conquista, tu, esse frágil pedaço de Vontade, que só querias um jardim à beira-mar.
Tu, rei e senhor desse Mundo de destroços, que davas tudo por um abraço e agora estás sozinho numa luta sem adversário.
Monday, March 12, 2007
Refresh
Friday, March 09, 2007
Curvas e linhas rectas
If you never try, then you'll never know
How long do I have to climb
Up on the side of this mountain of mine?
Quando a mente rodopia em espirais e as folhas caídas se levantam desgarradas num compasso desajeitado de sopro uivado, o chão fica descoberto e podemos olhar para o que está por debaixo de nós.
Sob os nossos sonhos e projectos, está a nossa base de valores, o nosso fundamental. O que nos faz andar? O que distingue uma realização pessoal de uma condição essencial à nossa estabilidade emocional? E que condição é essa?
Acabo de me demitir de um dos melhores empregos que há em Lisboa e, com isto, de decidir passar os próximos anos da minha vida a batalhar por um lugar no Mundo.
Em Outubro, maisdemilvozes passa a ser escrito desde Londres.
Em Janeiro de 2008 muda-se para Hong Kong, NY, Genève, Singapura ou permanece em Londres.
No Junho a seguir muda-se para outra dessas cinco cidades e em Dezembro de 2008 para outra.
Em Julho de 2009, 18 meses e três capitais mundiais depois, poderá voltar a ser escrito de Lisboa, ou então de qualquer outra cidade do Mundo.
Que salto no escuro.
Sinto-me a pessoa mais frágil e mais poderosa do Mundo.
Poderosa porque num ano e meio vou viver em 3 cidades diferentes num dos maiores bancos do Mundo, frágil porque sou só um pequeno português que adora a família e o país.
Um puto com sonhos.
Há que persegui-los.
Hoje foi quando eu disse: “Até já Lisboa. Até já estabilidade, futuro previsível, jantar na mesa e roupa lavada. Até já mãe, pai, avô e avó, até já meus amigos e irmãos. Até já nostalgia. Até já jantares às sextas, miúdas do Lux, early twenties em Lisboa.”
E depois disse, com um olhar totalmente deliciado e aterrado: “Olá Mundo. Espero que me trates bem.”
E agora, é sexta-feira e vou mas é para o Algarve, que também não é nada mau.
Thursday, March 08, 2007
Por exemplo isto
Interpol em Portugal
O que é que eu hei-de fazer com isto?
Eu ia viajar durante 4 meses. E agora?
E agora?
(Agora vou na mesma, levo o iPod e vejo Interpol ao vivo em Nova Iorque)
Tuesday, March 06, 2007
Viver para contá-la
Gabriel Garcia Marquez
Faz 80 anos o maior autor vivo e, para mim, o maior também entre os que já não vivem. A influência da sua escrita toca a minha personalidade até à insanidade. Não há nada igual. Nada, nada, nada. Uma frase deste homem, humano como nós, é um acontecimento único. Ainda bem que a Vida premeia certas pessoas com anos e anos de longevidade. Não sei quanto, mas uma parte de mim vê o Mundo, sente-o e expressa-o de determinada maneira por causa deste homem. De como olha, sente, pensa e escreve. E isto sem pensar nele. Está cá dentro. No meu Mundo, é a personalidade do século XX. Dou-lhe os parabéns. Pena que não saiba português - mas é melhor assim, teria vergonha que me lesse.
Sunday, March 04, 2007
Cassiopeia
- Pá tenho imensa inveja daqueles gajos que tocam viola.
- Viola?? Porquê??
- Porque podem dizer tudo o que querem a uma gaja.
- Como assim?
- Pá pegam naquilo, dão duas ou três vezes ao dedo e dizem: “gosto de ti”.
- E elas?
- E elas o quê?
- Elas percebem?
- Percebem o quê??
- Foda-se parece que és burro. Percebem que eles as curtem?
- Geralmente, percebem. As gajas topam tudo pá.
- Sim, mas um gajo pega numa viola, compõe uma música, toca à gaja que curte...
- Sim...?
- Ela vai ouvir e perguntar: “Curtes-me?” ?
- Nao foda-se! Ela olha pó gajo e diz: “Tá engraçada a música.” E pensa: “Meu Deus, que cena! Este gajo compôs este som brutal só para mim!”
- E ela curte isso?
- Curte.
- E não mostra pois não?
- Não.
- Mas pode gostar da música e mesmo assim não tar nem aí para o gajo.
- Também pode.
- Então a música não serviu de nada.
- Serviu pá. Serviu para ela ver que ele perde tempo a pensar nela.
- Então e depois como é que ele topa que ela o curte?
- Não topa.
- Não topa??
- Não.
- Então como é que um gajo há-de saber se pode ter alguma coisa com ela?
- Nao sabe. Arrisca.
- Arrisca?
- Sim.
- E se não arriscar?
- Se não arriscar nunca vai saber!
- E se arriscar e levar com os pés?
- Vai para casa contente na mesma..
- Vai?
- Vai, por duas razões: primeiro porque pelo menos mostrou-lhe o que quer dela..
- E segundo porque pode usar a música com outra!
- Não sejas alarve!
- Então a segunda qual é?
- É que um gajo se mostrar o que quer, assume. Dá a cara. Faz-se homem!
- Mas às vezes até é melhor um gajo não arriscar, não achas?
- Pá não. Porque é que achas isso?
- Se não há conexão entre duas pessoas, isso nota-se!
- Sabes que um gajo só nota aquilo que quer notar..
- Tás a dizer que és ingénuo ao ponto de achares que uma miúda que não tá nem aí pa ti se calhar até tá interessada?
- Sou um bocado sonhador sou..
- Falas muito mas arriscas pouco, que eu bem te conheço.
- Eu não toco viola pá.
- Otário e não tens outras maneiras de tentar ser especial?
- Bem, tenho sempre o blog..
- O blog??
- Sim posso escrever textos dedicados a quem me apetecer.
- Sim mas aí ela pode não perceber que é para ela..
- Percebe, percebe..
- O texto do espelho era para ela?
- Não!
- E este?
- Este?
- Sim.
- Este é.
- Então tás-me a usar cabrão!!
- Tou!
- E tás a ser personagem do teu blog. É raro não é?
- Raríssimo.
- Espero que ela valha a pena!
- Vale!
- E que curta isto que andamos para aqui a palrar!
- Vai curtir...
- E que te curta a ti!
- Não curte.
- Não curte?!
- Estranhamente, não.
- Como é que sabes?
- Porque não se pode estar apaixonada por um gajo e curtir outro!
- Poder pode..
- Sim mas esta não é assim..
- Como é que sabes?
- Não sei!
- Então talvez ela até te ache alguma piada!
- Eh pá eu no lugar dela achava!!
- Ah pronto, tinha-me esquecido que estava a falar com o maior pito de Lisboa!!
- Tá calado!
- E ela, é gira?
- Não tanto quanto se acha!
- Ah acha-se a última coca-cola?
- Acha-se!
- E é?
- Nalgumas coisas, é!
- Em quê?
- Vou guardar para mim o que gosto nela!
- Não confias em mim?
- É preciso repetir que as paredes têm ouvidos?
- Oops desculpa. Tinha-me esquecido que sou personagem de um diálogo. Não estou habituado a ser famoso.
- Seja como for, acho que já disse o suficiente!
- Vamos beber copos?
- Bora.
- E meter-nos com gajas?
- Com todas!
- Todas!?
- Todas.
- E eu a achar que curtias esta..
- E curto..
- Então para que queres as outras?
- Tava a brincar pá. Vá bora.
- Mas é um caso perdido, ela?
- Ela?
- Sim, tipo: ela e tu?
- Acho que é.
- E baixas assim os braços?
- Sou um tuga desarmado numa emboscada no meio da selva do Zaire.
- Ãhn??
- Esquece. Bora pos copos.
- Mas baixas os braços ou não?
- Este texto parece-te de alguém que baixou os braços?
- Parece-me de alguém que tem alguma lata..
- Não tenho nada a perder.
- Não bates bem.
- Somos dois.
- Eu e tu?
- Eu e ela!
- Bem, pelo menos isso têm em comum!
- Bom, levas o carro?
- Não.
- Então bora de táxi.