Monday, June 12, 2006

A solidão de Figo

Em vão procurei pela Internet uma fotografia do momento em que Figo cai para trás e vê a bola que passou chegar a Pauleta, que a meteria na baliza.

Tudo ali é beleza e solidão.

A arrancada das suas pernas veteranas, ainda capazes de vencer um defesa veloz e levantar estádios, a fé com que passa a bola por lado e o corpo por outro, o braço direito que, como sempre fez, passa em arco sobre o adversário para acabar à frente dele, sinal inalienável de que esse obstáculo já ficou para trás; depois, num gesto que tem 15 anos de idade - sempre comigo a aplaudir comovido - um passe, uma entrega despojada para que outro marque e voe de braços abertos.

Aquele momento suspenso em que Figo cai, vergado pela força da idade, e vê, do chão e em suspense, a cara marcada pelo esforço, o colega marcar golo, a forma como se levanta, já sem a agilidade de outrora, e se junta aos colegas para festejar um golo que construíu e cujos louros, como sempre, não colhe, representa o mais bonito que alguém pode ver em futebol: o esforço incondicional de um velho guerreiro.

O momento em que cai, exausto da arrancada que faz, e observa, suspenso e em esforço, que Pauleta conclua em golo o seu sacrifício de velho capitão, é o auge da sua solidão e, ao mesmo tempo, a prova final de que - como disse o General McArthur no seu discurso de despedida - os velhos soldados nunca morrem.

1 comment:

m said...

só foi pena ter sido só uma vez