I.
Esta pessoa que vemos na fotografia chama-se António de Almeida Santos e foi Presidente da Assembleia da República Portuguesa entre 1995 e 2002. Hoje, é presidente do partido que forma o nosso Governo e que detém a maioria dos assentos de deputado na Assembleia da República.
Recordemos alguma da Legislação do foro exclusivo da Assembleia da República, tal como é definida no site do Governo Português:
"Regimes de eleições e referendo; cidadania e símbolos nacionais; regimes do estado de sítio e de emergência; organização e funcionamento da Defesa Nacional, das forças de segurança, e dos Serviços de Informação; restrições a direitos dos militares e agentes das forças de segurança; regime geral do orçamento do Estado, das regiões e das autarquias"
Recordemos agora, muito resumidamente, alguns artigos que definem a Assembleia da República, tal como estão apresentados na Constituição da República Portuguesa. Segundo esse documento que rege o nosso Estado, "a Assembleia da República é a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses" (Artigo 147º), e "os Deputados representam todo o país " (Artigo 152º).
Sobre o mesmo tema, o site da Assembleia da República indica que "compete ao Presidente [da Assembleia da República] representar a Assembleia, presidir à Mesa, dirigir os trabalhos parlamentares, fixar a ordem do dia, depois de ouvir a Conferência dos Representantes dos Grupos Parlamentares, assinar os Decretos e outros documentos expedidos em nome da Assembleia da República e superintender na sua administração.
Ainda nesse site, vale a pena, antes de nos debruçarmos sobre o cerne deste artigo, recordar as palavras do actual Presidente da Assembleia, Jaime Gama, sobre o órgão a que preside: "A Assembleia da República é o coração da vida política e a alma da própria democracia, a casa representativa do povo português, eleita por todos nós, cidadãs e cidadãos de Portugal"
II.
Feita a apresentação ao ex-Presidente e explicitada que está a função e o impacto na vida de todos os portugueses do órgão a que durante sete anos presidiu, analisemos com atenção as palavras com que responde, numa entrevista de 29 de Novembro de 2006 à revista "Sábado", à pergunta As pessoas pedem-lhe cartas de recomendação?:
"É verdade. Confesso que uma vez por outra ainda meto cunhas, mas não tanto agora. Era fácil dizer: tenha paciência, mas cunhas eu não meto. Mas isso é desumanidade, porque ali há uma aflição e eu tenho possibilidade de a resolver."
Esta afirmação é tão enorme e despudoradamente aberrante, que eu não só não sei por que parte da sua alarvidade começar a dissecá-la, como também não creio que esteja a honrar a inteligência de Leitor algum ao tentar explicar-lhe a minha opinião sobre a mesma, já que estas palavras falam por si.
No entanto, pensemos em conjunto:
Haverá algo mais anti-democrático do que meter uma cunha? Haverá algo mais desprestigiante para uma instituição pública do que existirem cunhas perpetradas por altos membros do seu aparelho? Haverá algo tão despudorado como alguém eleito pela unanimidade dos deputados à Assembleia da República admitir que o faz? Haverá algo mais egocênctrico do que justificar uma cunha metida por abuso de poder, com o desejo de resolver uma aflição?
Haverá algo mais idiota do que ter sido Presidente da Assembleia da República durante sete anos e ainda achar que resolver o problema de alguém com uma cunha não vai causar um desequilíbrio no sistema - em qualquer sistema - prejudicando mais pessoas do que a que se ajudou?
III.
Haverá alguém, para além de mim, que se preocupe com isto?
15 comments:
É de facto de lamentar a leviendade com que Almeida Santos diz uma alarvidade destas.
Que o faça nas suas empresas (não sei quantas tem, ou se as tem, conheço superficialmente a sua faceta política e nada mais) é com ele. "Ajuda" quem quer, quando quer e da maneira que achar melhor.
Vir oferecer lugares que não são dele e, pior do que tudo, assumir tê-lo feito, sem qq vergonha na cara! Apenas porque "pode"!
Senilidade como atenuante, mas não mais do que isso, atenuante...
Eu.
"Resolver uma aflição" ? Eu chamo-lhe incentivar a mediocridade.
O facilitismo causa, pelo menos, dois problemas: descredibiliza o país e desincentiva o reconhecimento pelo mérito.
Depois damos palmadinhas nas costas aos (verdadeiros) cérebros que têm de emigrar...
Sem dúvida o exterior agradece.
Eu!
o dificil é que esta "pouca vergonha" é feita ás claras...já nem há vergonha. Já se tornou um facto. Uma certeza!
Estes senhores que se apresentam como "cordeiros brancos mansinhos" são, efectivamente, os grandes corruptos do nosso país, bem como, os verdadeiros e grandes culpados da falta de credibilidade d a política e dos seus agentes.
O que nos falta são exemplos...Soares e Almeidas Santos da vida têm, urgentemente, de uma vez por todas, sair...ou serem extintos
Claro que toda a gente se importa.
Toda a gente acha aberrante.
O agricultor da Freguesia de Cabeça, em Seia, onde Almeida Santos nasceu acha repugnante.
Mas quem é que faz alguma coisa para mudar isso?
Nas próximas eleições ele é mais um nome, numa lista na escolha da qual tu não tens qualquer poder de decisão. Votas no cabeça de cartaz e os outros vêm por atrelado a cada X pontos percentuais.
Acho que todos sabemos que as cunhas são um desincentivo ao mérito e logo, pior ainda, ao esforço. Com cunhas nem o visado se esforça, porque tem e sabe que tem a vida facilitada, nem quem tem mesmo de se esforçar, porque não tem a vida facilitada, se esforça (porque sabe que por mais que o faça vai ser ultrupassado pelos que sao presenteados com cunhas).
Não obstante, e no meio de tão cerrado ataque a esta persona, e vá lá, porque estamos no Advento, gostaria de pensar não nas palavras de Almeida Santos, o politico e figura publica, mas nas de Almeida Santos, o homem (o humano).
Aquilo a que se chama cunha é uma coisa natural e humana, aqui e na China, para Almeida Santos ou para o homem do talho.
Imaginemos que uma pessoa que nos é querida tem um filho a precisar de um trabalho, e que esse filho até é capaz de dar conta do recado (apesar de ser possivel encontrar quem o faça melhor, pelo mesmo dinheiro), não será humano uma pessoa escolher o filho de um amigo? Porque gosta do amigo, porque o seu bem estar é afectado pelo bem estar do amigo?
Não sei. Penso que quando não se entra em esquemas isto das cunhas acaba por ser uma coisa natural, quer se queira quer não. O problema é quando se torna um entrave ao progresso e incentivo à mediocridade, concordo. Se for prática comum e entrar em esquemas de trocas de favores e influências, claro que isso se vai reflectir na produtividade de uma economia.
Mas se pensarmos em cada individuo em separado, dar uma cunha não deixa de ser humano, quando pedida.
É humano ajudar uma pessoa "quando há ali uma aflição".
Para mim o ridiculo não é alguém facilitar uma cunha (pensem em 10 bons amigos vossos daqui a 15 anos e pensem que eles estão com graves problemas e que voçês os podem ajudar, por exemplo),o ridiculo é alguém PEDIR uma cunha.
Inconsciente é pedir uma cunha, mas quando pedida, aceitá-la é, como tantos outros erros, humano.
(isto porque acredito que as cunhas tem limites. Ninguém vai por um analfabeto num lugar para um licenciado).
Enfim, ciente da dimensão e problemática que pode surgir de esta coisa chamada cunha que já deve vir desde há milhares e milhares de anos, queria dizer que uma das razões que afasta as pessoas com qualidade da politica (e não estou a dizer se a pessoa em causa tem qualidade ou nao) também passa por aqui: saber que as vão julgar antes de lhes darem o benificio da duvida...
Abraço
Anónimo,
Faz sentido o q escreveste, o sentimento que invocas (esqueceste-te, tal como está referido, a aflição de quem tem competência/capacidade para o lugar e fica excluído) e até algum enquadramento.
Com uma pequena falha, a "empresa" não é dele e muito menos o "lugar".
Se Almeida Santos o fizer nas suas empresas (não faço a mínima ideia se as tem), de onde tira o seu "ganha-pão", o post e os comentários deixam de fazer sentido.
O que ficou foi uma tentativa para legitimar cunhas. E aqui entra e questão do exemplo que Almeida Santos não soube ser.
A todos os títulos lamentável mas revelador. Prestou um mau serviço público.
Caro anónimo
Apesar de obstar por princípio a tudo o que escreves, a argumentação é válida, na medida em que justifica a prática de algo que, de tão humano, quase se torna tolerável.
O Ser Humano é um animal, e luta pela sobrevivência. A sua e a dos seus. Apenas depois (e salvo raras excepções na história da Humanidade) se preocupa com o bem-estar dos outros. Quase fim da cadeia de preocupações de um Ser Humano médio está o bem-estar do seu país e, na cauda, está o da Humanidade.
Dessa óptica, a cunha é um meio de usar o poder para proteger os nossos. Os nossos filhos, os nossos amigos, os nossos amigos ou mesmo os nossos interesses futuros (por exemplo se metermos uma cunha por um desconhecido em troca de um favor que ele nos possa fazer no futuro). Assim, como penso que defendes, a cunha é Humana.
É.
É tão humana como o humano é um animal darwinista. Não consigo contestar isso e subscrevo inteiramente.
No entanto, a nossa condição Humana é dotada de uma evolução mental diferenciada nas diversas partes do território mundial, um exemplo do qual podes ver num post de 16 de Junho neste mesmo blog: satisfeitas as necessidades básicas, as sociedades evoluem para a descoberta de conceitos como a Solidariedade, a Razão, a Consciência, a Honra, a Partilha, ou, esse conceito delicado, a Ética. Quanto maior o estádio de desenvolvimento, mais éticos e menos animais nos tornamos. Não menos Humanos, mas Humanos mais desenvolvidos.
Nesse sentido, a ética é o maior limitador das liberdades humanas. A ética pode impedir um Ser Humano de alimentar, de enriquecer, de se emancipar. A ética pode limitar a ascensão ao poder, o enriquecimento, o desenvolvimento individual.
A ética diferencia as acções dos indivíduos e condiciona o seu comportamento, por forma a padronizá-lo. Se o comportamento animal e instintivo de um Ser Humano não é previsível, a persecução de uma conduta que se reja por uma ética comum standardiza a convivência entre as pessoas. A ética é o pilar básico da justiça, porque define um padrão mínimo de comportamento, um denominador comum.
Quando voto em alguém, não voto nessa pessoa, mas sim no conceito em que acredito: uma sociedade democrática assente num modelo de valores que promove a justiça e a emancipação individual. Um cargo político serve para preservar um conjunto de valores adquirido por uma sociedade. Um cargo político é total e indelevelmente dissociado de quem o pratica. Um Político não é uma Pessoa, é uma Ferramenta de um conjunto de valores.
Porque senão, não pode ter Poder. Eu não me submeto ao Poder de um Político per se, eu faço-o porque para preservar o meu bem-estar e a sobrevivência dos meus valores, necessito de alguém que o preserve. Caso contrário, soltar-se-ia o animal que há em mim e no dos outros Humanos. A Política e o Estado só existem para impedir o Ser Humano de viver numa anarquia darwinista, à qual naturalmente se sujeitaria se não fosse controlado. Sem Estado, sem Organização sem fronteiras, sem Lei, sem Ética, todos comeríamos os recursos até acabarem, e depois comer-nos-íamos uns aos outros.
(Nesse sentido, fazes bem em permaneceres anónimo, pois serás o último a ser comido.)
Sem Estado, não haveria preocupação Ambiental, Hospitais subsidiados, Políticas agrícolas ou Salário Mínimo. Sem Estado, só havia Seres Humanos à luta pela sobrevivência, e os recursos não chegam para todos.
Eu não tenho nada contra o Almeida Santos-pessoa e estou tão certo como me chamar Luís que ele já fez muitas e boas acções, por si próprio e por desconhecidos. Paralelamente, tenho a mesma certeza que as pessoas que elogio neste blog também já fizeram muitas acções prejudiciais aos seus e a desconhecidos. Não está aqui, portanto, em causa o Julgamento de uma Pessoa, mas sim o Julgamento de um Acto dessa Pessoa.
Pessoalmente, para mim, o Almeida Santos tanto pode morrer na próxima sarjeta como ser eleito Presidente da General Motors amanhã: estou-me a borrifar para ele, desde que não interfira com a minha vida.
O Almeida Santos ocupou o cargo de Presidente da Assembleia da República do meu país durante sete anos, e durante sete anos teve influência no meu bem-estar. Eu não escolhi o meu país, mas vivo de acordo com as suas Leis. As Leis do meu país ditam quão feliz eu vou ser, se eu agir de acordo com elas.
E ajo, porque acredito que é a melhor forma de vivermos em conjunto, apesar de poder não ser a melhor forma de eu satisfazer o meu Eu-Animal. Nesse sentido, considero-me um Animal esclarecido, mérito que devo a um fortuito acaso que me colocou na Europa no momento do nascimento.
O que Almeida Santos fizer enquanto Pessoa é do seu foro pessoal e, concordo com FBL, nada tenho a dizer com o que faz nas suas empresas, desde que pague os impostos devidos. Mas o que ele faz enquanto Presidente do órgão que dita as minhas Leis tem de estar de acordo com essas Leis, porque senão essas Leis perdem o sentido. E se essas Leis – esse Código de Ética – perderem o sentido, o cargo que ele ocupa também perde. E se o cargo que ele ocupa perde o sentido, a Assembleia também perde.
Findo o sentido da Assembleia, viveremos, de novo, darwinisticamente.
Quando se vota em alguém que vai influenciar a nossa vida, fazemo-lo confiando de que ele vai abdicar do seu Eu-animal para se dedicar à prática do seu Eu-Ético, pelo menos durante os momentos do dia em que estiver a exercitar o seu Poder político: confiamos que essa pessoa vai preservar o nosso código comum de valores, porque se ela – que tem o Poder - não o faz, então ninguém o fará, já que está visto que, por instinto, somos apenas Animais.
Precisamos do Político para preservar o nosso código de valores.
Por isso é que é difícil ser Político, por isso é que é difícil dar o exemplo: porque há que pensar e agir pelo Todo, e a necessidade do Todo é muito diferente da necessidade do Eu Animal.
Cunhas é Humano. Não basta ser Humano na Política.
A cunha, por ser um erro humano, não se torna quase tolerável, nunca disse nem direi isso, mas sim compreensivel, o que é substancialmente diferente.
Bom ou mau, o meu comentário fez com que fosses muito mais longe na tua análise e sinceramente acho que a tua resposta foi muito mais interessante do que o teu post. Isto porque no post falavas de uma cunha como algo monstruoso, quando na verdade (talvez não o seja daqui a cem anos) quer queiramos quer não, ainda estamos na fase em que é preciso fazer o esforço para ir contra isso, não sai naturalmente, mas há de sair. Ou seja, pareceu-me que o grau de ataque da tua critica não foi coerente com o estágio de evolução e ética em que nos encontramos.
Por fim, que é o que interessa, concordo com tudo o que disseste.
Não vou dizer que me esqueci de assinar, é mentira, fi-lo deliberadamente. Por insegurança, ou por cobardia, pouco importa.
Anonimo, começando pelo fim, devo dizer que o teu anonimato em nada me perturba, apesar de, numa certa medida, me deixar fragilizado na minha exposicao. Mas como estamos a conversar construtivamente, pouco importa quem assina. Se importasse, estariamos a dar às opinioes um grau de hierarquia que, na verdade, talvez nao devessem ter.
nao senti que tenha sido demasiado duro na minha critica inicial, mas todos temos formas diferentes de reagir. a mim, a discussao do que é avida politica (o uso do Poder) tem-me desde ha tempos ocupado a mente. Gostei desta nossa discussao.
seria engracado continuar a ouvir a tua opiniao sobre estes e outros temas, se bem que, como vês, este meu blog tem mais de trivialidades do que de temas sérios. (ou entao está cheio de temas sérios e eu é que sou trivial).
Discordo com a Sofia, o fenómeno cunha com acto singular para poder ajudar alguém não contribui, a meu, para incentivar a mediocridade. Nos dias de hoje pedir cunhas é um erro e, na sociedade agressiva em que vivemos cada vez menos tem sentido. Ter algum conhecimento que facilite uma ida a uma entrevista acontece em qualquer parte do mundo. Penso que se tem de distinguir estes dois conceitos: ter conhecimentos numa determinada empresa (amigo ou familiar) e pressionar a mesma empresa para contratar um indivíduo específico. O que muitas vezes acontece é assistirmos a ex-politicos e políticos no activo a darem uso ao que se chama influência de poder e de forma despudorada pondo em prática o 2º conceito supracitado. Isso sim é deplorável e “desincentiva o reconhecimento pelo mérito.”
De resto, acho que se podia falar um pouco da Carolina Salgado e da maneira como ela aparava as unhas do Jorge Nuno para animar um pouco estas hostes.
Poderia também especular-se um pouco sobre o procedimento utilizado pelo Jorge Nuno para pedir uma cunha a alguém. Uma bastonada ao nível da maxila e um braço partido chega perfeitamente para persuadir gentilmente qualquer alto cargo de uma empresa. Evita-se a maçada de jantar fora e pagar brindes. Qual Almeida Santos.
Abraços Fausto
Fausto, tens razão. São dois conceitos diferentes. Eu critico o conceito de cunha em que se faz um favor indiscriminado a alguém, em detrimento de outros. Abrir uma porta a uma entrevista não é uma cunha, é um desentupidor de processo. Não tem mal nenhum. Até é bom: referenciar alguém é bom! Senão, somos só o que está no papel. Quando critico o Almeida Santos, assumo que quando diz que mete cunhas, está a falar de cunhas a sério, porque ninguém chama de "cunha" a recomendar o CV de alguém.
El-gee muita filosofia e pouca objectividade. Eu-animal? "Findo o sentido da Assembleia, viveremos, de novo, darwinisticamente"?
"Pessoalmente, para mim, o Almeida Santos tanto pode morrer na próxima sarjeta como ser eleito Presidente da General Motors amanhã: estou-me a borrifar para ele, desde que não interfira com a minha vida."
Achas minimamente ético este ultimo paragrafo que cito?
Concordo com o anónimo mas não concorso que a resposta do El gee tenha sido mais interssante que o post.
Tenho pena que não assines o teu texto. Ninguem te vai julgar pelo que pensas ou escreves para além de fragilizar as tuas opiniões.
Fausto, tem de haver um racional por trás de tudo. Tu chamas-lhe Filosofia, eu chamo-lhe Busca. Mas estamos a falar da mesma coisa: a justificação teórica para algo. Mas se estava eu - de uma forma muito leiga e opinionista - a discutir ética, não posso senão introduzir elementos de uma Busca filosófica, senão a discussão perde o sentido.
Em relação a vivermos darwinisticamente se não tivermos alguma forma de Governo, trata-se mais uma vez da opinião de quem só muito ao de leve leu as acesas discussões entre os Iluministas franceses (e outros). Mais uma vez, é uma opinião pessoal. Eu creio, numa opinião amadurecida mas jamais definitiva, que o Ser Humano vive para sobreviver, em primeira análise, e que está disposto a tudo para tal. É esse o seu primeiro objectivo, e é isso que chamo de darwinista: sobrevivência a qualquer custo, sempre que necessário com o uso da força. Teria de roubar algumas horas de trabalho à minha empresa para discutir isto decentemente agora. Desculpa.
Em relação à minha postura perante o Almeida Santos-pessoa, não creio que seja pouco ética. Aliás, é bastante honesta e coerente com o que escrevi até agora: eu não quero saber dele para nada. Essa verdade semi-adquirida de que temos de preocupar-nos uns com os outros, sob pena de sermos considerados más pessoas, sim, é pouco ética, porque na hora da verdade é uma enorme hipocrisia. As pessoas só são solidárias no final das suas preocupações e quando não têm tempo para pensar em mais nada. E muitas vezes, quando o são, são-no em troca de algo, quanto mais não seja a satisfação de uma pressão interior de dar a outrem um pouco do excesso de felicidade e bem-estar que têm. Quem é que dá, sem ter primeiro? Voltando ao A.S. De facto, usei exemplos exagerados, e em caso de dúvida prefiro que ele ande por aí vivo a passear os netos do que morra atropelado por um camião, mas o meu ponto era mostrar que a minha crítica às suas afirmações não era pessoal contra ele, mas sim contra os seus actos. Mas sim, repito sem a mínima noção de culpa, que a sua vida ou morte está muito em baixo no ranking das minhas preocupações. Somos seis biliões e ele é mais um. E eu sou outro, e tenho um círculo de pessoas suficientemente grande com quem me preocupar.
Se calhar sou egoísta. Devo ser. Se calhar estou completamente enganado, e o único Ser Humano darwinista sou eu que, tomado por um egocênctrico amor pela sua própria opinião, tenta projectá-la para toda a Humanidade. É possível, claro, mas penso que não se trata disso. Aliás, é algo arrogante a distância a que o Homem se tenta colocar dos restantes animais, como se não fosse também ele um fruto da Evolução. (Seja como for, deixo essa hipótese em cima da mesa.)
Vou trabalhar, aberto a tudo.
Também não me interessa nada o Almeida Santos. Não simpatizo nada com a pessoa nem com os rumores que pairam sobre ele aquando da descolinização de Moçambique e Angola. Estamos de acordo nesse ponto (como noutros certamente).
abraço e desculpa a frontalidade.
Boa sorte para o teu blog
O que eu nao desculparia era a falta de frontalidade. Obrigado por ela, portanto.
Ao meu blog, nem a sorte o salva!! é um louco.
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