Thursday, August 14, 2008

Em Africa

"The term whenwe describes former British settlers or expatriates, usually white, known to talk constantly and nostalgically about their former homes in colonial Africa, ie: "when we lived in...". The original 'whenwes' came from eastern Africa, mostly Kenya. Being largely of colonial origin, they went back to the United Kingdom or moved down to Rhodesia in the early 1960s."

http://en.wikipedia.org/wiki/Whenwe

Tem piada. Tambem se nota muito isto quando se fala com portuguseses que viveram em Angola, Mocambique ou Sao Tome. Qualquer conversa com qualquer avó de Lisboa que tenha passado a juventude nas colonias passa sempre pelo..

.."Em Africa.."

E é sempre África. Nunca é "quando eu vivia em Angola", ou "Na nossa casa em Mocambique."

Nunca.

É sempre.. 

"..em África.."..

África.

África.

África.

Sou capaz de repetir isto durante horas.

África.

Nunca, jamais, ou muito dificilmente, vou um dia compreender o que sentem estas pessoas do "em África". Ha uma carga emocional gigantesca, sempre que falam de África. E sempre, sempre, a referencia a "cor da terra", e tantas vezes aos "nossos criados".

Possivelmente, a vida que os senhores coloniais levavam "em Africa" seria dificilmente admissivel aos olhos criticos do nosso Eu social de hoje.

No entanto, fica o registo, a memoria, dos que la estiveram, "em Africa", e de tal forma ficou que, ainda hoje, mais de trinta anos depois, falam dos tempos "em Africa" com uma carga emocional que dificilmente se testemunha em qualquer outra manifestacao de nostalgia.

Enche-me de um fascinio enorme, isto. Quase tenho inveja de nao ser um deles, um "em Africa". Por certo deve ser penoso e dificil pensar nesses tempos felizes, mas que bom deve ser ter vivido tamanha felicidade. Na verdade, falar com um "em Africa" é um dos mais fascinantes prazeres da vida lusofona.

2 comments:

Raquel said...

Fui a África em 2004 e na altura escrevi isto: "África tem a forma de um coração, e só agora percebo porquê. África. Eu não sabia nada sobre África, e agora que sei, ela não sai de mim. Chega-se a casa com vontade de enfiar os sacos fechados (e até nós mesmos) para dentro da máquina de lavar, e a terra não sai. A terra vermelha e coagulada não sai, esfrega-se com mais força e não sai. Olha-se pela janela e tenta amar-se o que os olhos acarinharam tanto tempo como parte de nós, e dá-se um passo, mas aquela terra não nos sai dos pés, enrola-nos num visco escuro e melancólico e não se consegue andar, não se vence a nossa própria vontade. Sentimo-nos sós, sentimo-nos estranhos em casa, sentimos que não pertencemos ali. Páro em algumas fotos e elas transbordam para o meu redor. Momentos. Aquelas planícies que não tinham fim e aquela estrada que por nem parecer uma estrada, parecia por isso mesmo que nem tinha destino. Eu nunca quis assim muito ir a África. Eu nunca me imaginei a subir 5000 metros nem a ser comida pelos mosquitos em acampamentos selvagens em Masai Mara. Eu nunca sonhei com aquelas trovoadas ao crepúsculo. E subitamente, é como se sempre tivesse estado a precisar delas, como se delas dependesse o escorrer de uma pele que não era realmente a minha e que me incomodava."

Lorena said...

Talvez um dia também possamos dizer algo do género.

O futuro está nas nossas mãos. O que é preciso é arriscar...

Tu já vais no inicio dessa possível "jornada" que te permitirá ser/falar como um whenwe.

Well Done!