Tuesday, January 27, 2009

Satellites



What's that you see? There's all these satellites, orbiting you and me!


 

^´`~

Tenho vindo a reparar que este blog utiliza uma acentuacao totalmente livre: tanto usa como omite os acentos essenciais na lingua portuguesa. Ou língua. Mas nunca se engana. (Nunca escreve lìngua.) E (é) (nao "è") um blog incrivelmente correcto, mas preguicoso. 

Nota adicional: qual o futuro da cedilha?

Ne, aus Wuppertal!

Da minha (relativamente pobre) experiencia cinematografica, destaco este como momento preferido:

 

Monday, January 26, 2009

Sergi

Uma certa nostalgia da geracao de grandes tenistas espanhois em redor do fim anos 90 (de Bruguera a Corretja e Moya, mais alguns outros) e da forma como lutavam ate ao ultimo milimetro por cada bola, com a frieza profissional que a geracao lutadora seguinte (os argentinos) nao conseguiu dominar, surge ao ver Verdasco, embora se manifeste em piso-rapido.

 

Depois de anos e anos a formar uma opiniao, penso que

A unica explicacao que pode haver para o consistente mau-gosto na roupa no Nadal - tao, consistente, alas, que exclui, por obscena, a hipotese de nao ser pre-meditado - é a Nike estar a utiliza-lo como porta-estandarte da marca para o segmento popularuxo do mercado, nomeadamente a classe social media-baixa com os recursos medio-altos necessários para comprar aquelas roupas, isto é, pequenos criminosos de rua e filhos de prostitutas bem estabelecidas.

'I just won't sleep,' I decided. There were so many other interesting things to do.

Estava embrenhado na pequena loucura que On the Road provavelmente se vai revelar, quando uma frase me saltou pelos olhos acima, e desde aí já a reli até me doerem as pupilas -

Eis Sal Paradise, ou Jack Kerouac, acabado de chegar a Denver, sem um tostao mas cheio de amigos, doido por se deixar levar no vastamente americano sonho de sexo, jazz e whisky, depois de dias e dias a acumular entusiasmo e vida à boleia desde Nova Iorque:

"We found a man in the markets that agreed to hire both of us; work started at four o'clock in the morning and went till six p.m. The man said 'I like boys who like to work.' 'You've got your man,' said Eddie, but I wasn't so sure about myself. 'I just won't sleep,' I decided. There were so many other interesting things to do."
 
Nao estou sozinho.
 

sOLIDAO

E eis como a Magda, depois de uma noite, uma manha e uma tarde de silencio, ganha o Premio Persistencia 2009:

18.00: Ola, queres ir jantar a qualquer lado?
 

Sunday, January 25, 2009

Australia vs Australia

Ocorre-me que a Cate Blanchett é tudo o que a Nicole Kidman é, mas com classe. Ou vice-versa. A Nicole Kidman é tudo o que a Cate Blanchett é, mas em reles. 


(Meu Deus, que mulher maravilhosa)
 

pOBRE mAGDA

A Magda tem as unhas dos pés pintadas de castanho-escuro. É inadmissivel.

Conversa de elevador depois de irmos jantar com o Pete (ela mora no 12º andar e eu no 10º) :

1.-2. andar: silêncio
3. andar: Queres ir almocar amanha? (Magda)
4.-5. andar: silêncio
6. andar: Possivelmente.. (Eu)
7. andar: Telefona-me quando acordares.. (Magda)
8.-9. andar: silêncio
10. andar: Telefonas? (Magda)

Saí do elevador.
 

Uma desgraca

É uma tragédia de proporcoes dificilmente tragáveis que mais um grande autor tenha vendido os direitos de mais um grande livro para mais um filme.

Como é que um Premio Nobel da Literatura pode fazer uma coisa destas? Onde é que fica a dignidade artística de um grande autor que vende os direitos da sua obra para filme?

Um jovem autor em inicio de carreira, va la, as vezes tem de sacrificar essa dignidade por motivos financeiros ou como forma de se projectar, mas um tipo de 70 anos, consagrado, lido por milhoes, venerado, supostamente orgulhoso do seu legado, porque faz uma coisa destas?

Será por vaidade? Será que alguns grandes autores consideram um privilégio ver a sua obra adaptada num (bom) filme? Será pelo dinheiro? 

Será porque os direitos nem lhes pertencem, mas às editoras, que fazem deles o que entendem?

Nao compreendo.

Nao quer dizer que me oponha - porque nao sei o que é ser um grande autor, no terco final da vida - mas nao compreendo. Nao me entra na cabeca. Consigo discernir alguns dos motivos que levam a um acto destes, mas nao compreendo totalmente como se pode tomar tal decisao.

É uma desgraca.

Isto sim, é uma desgraca.

Finalmente, Disgrace alcanca a sua maturidade semantica.
 

Saturday, January 24, 2009

Scott. Brad. Cate.

The Curious Case of Benjamin Button apresenta-me pela primeira vez um verdadeiro dilema, porque ver Brad Pitt e Cate Blanchett no mesmo filme pode, possivelmente, ser melhor do que ler uma short-story do F. Scott Fitzgerald. (Ver Brad Pitt e Cate Blanchett no mesmo filme é melhor do que muita coisa, e ler uma short-story do F. Scott Fitzgerald, apesar de tambem ser, é melhor do que menos coisas, em comparacao. Daí o dilema).

Penso que idealmente deveria sentar-me numa livraria com um café a frente e despachar as 100 páginas da short-story antes de ir ver o filme. Acho que é a decisao mais acertada. 

Seja como for, o que me está a preocupar nem é a questao de como resolver este dilema, mas o facto de o dilema existir porque, isso sim, é o dilema em si. Sempre achei que a minha política de "literatura > cinema" e "original > cópia" era inquebravel e agora estou aqui, feito estúpido, com um problema numa mao, a solucao na outra, e insatisfeito na mesma.

Ha problemas que, mesmo uma vez resolvidos, nos continuam a assustar. O problema nao é resolvido pela solucao, porque o problema é, mais do que tudo, a existencia do problema, e nao apenas o conteúdo do problema em si.

(Posso explicar isto melhor por telefone, se alguem precisar mesmo.)
 

mAGDA



A partir de agora, vamos chamar-lhe "Magda"


mANICOMIO

Ja nao restam duvidas de que ando a ser perseguido.

Troca de mensagens entre Ela e Eu hoje de manha (ou, chamemos-lhe, no pos-acordar), depois de termos todos ido sair a noite ontem.


14.36, ela

- Ainda estás a dormir?

15.46, eu

- Dormi bem, e tu? (Finjo que nao percebi a pergunta, evitando mostrar-lhe que estou acordado e pronto para mais um dia o que, na sua cabeca, significa disponivel para a aturar)

15.50, ela

- Tambem dormi bem, estou na piscina. Queres ir dar uma volta, ou ir comer qualquer coisa?

15.58, eu

- Ja comi. (Que horror. Estou-me a degradar. Onde é que eu deixei o charme?)

16.07, ela

- Bom, eu tambem ja almocei, mas estava a pensar irmos mais logo..

17.52, ela

- Oi, vou beber uns comos com a Joanne, queres vir? Ou podemos ir comer qualquer coisa, antes.


Estou a pensar fugir de Singapura.

Friday, January 23, 2009

mATRIMÓNIO

Devido ao que presumo ser um erro de concepcao - uma daquelas infelizes mal-formacoes geneticas, como nascer com tres olhos, ou sem uma mama - ha sempre um ou outro pequeno detalhe que me impede de ser totalmente feliz.

Neste momento, o stress é uma tipa da minha empresa que por azar tambem foi mandada para Singapura e que, como eu, veio para ca sem conhecer ninguem. O problema é que, ao contrario de mim, ela está convencida de que nós, nao só somos amigos, como somos daqueles amigos para quem a concepcao de "um dia feliz" nao faz sentido sem ter o outro ao lado.

Nada disto seria muito problemático num cenário com um numero apenas razoavel de coincidencias, mas neste caso as cartas estao todas nas maos dela, porque nao só fazemos parte do mesmo Programa Internacional na empresa, como vivemos a 10 metros um do outro no mesmo prédio e - isto continua - trabalhamos no mesmo andar e para o mesmo chefe!

Se eu fosse um grande filho da puta - que nao sou - conseguia dar a volta a isto tudo com um ou outro grunhido de cada vez que ela me viesse convidar para almocar, jantar, tomar o pequeno-almoco, beber um café, sair a noite, ir as compras ou jogar tenis ("Sai daqui!"), mas quis o meu infortúnio que ela e eu herdássemos o grupo de amigos por intermédio de uma amiga comum (tambem do nosso programa), pelo que, nestas primeiras semanas, planear algum tipo de interaccao social sem ela acaba sempre na desagradável surpresa de i) ela tambem vir e ii) ela saber que eu nao a convidei para ir.

Obviamente ela ainda nao percebeu nada disto, e continua a desafiar-me para um sem numero de programas, que infelizmente revelam a concepcao de "uma vida a dois - tu eu" com que ela está a construir a sua estadia em Singapura na sua cabeca.

- Deviamos ir ao Vietname no proximo fim-de-semana comprido! (Deviamos?)
- Ao Vietname? Ah. É giro? (Como se eu nao soubesse tudo sobre o Vietname e nao estivesse doido para la ir sem ela)
- É! Nao sabias? Hanoi é brutal! Podiamos ir sexta a noite e voltar domingo a tarde, ja vi uns voos baratos.. (Podiamos?)
- Ah sim, sao baratos? Mas ouve lá, aquilo por lá tá um bocado calor a mais nao ta? (Nao so a tentar desviar o tema dos voos, como a tentar explicar que o Vietname nao é água para o meu copo. Nao está calor nenhum no Vietname.)
- Achas que sim! Está optimo. Mas ouve, a alternativa era irmos ao Laos. (Irmos?)
- Ah sim, acho que o Laos é giro. É um bocado longe. (A tentar repetir a estratégia). Eu se calhar vou ficar cá sabes? (A tentar nao só mostrar que nao a incluo nos meus planos, utilizando a primeira pessoa do singular, como a mostrar-lhe que vai ter de viajar sem mim)
- Ah sim, ficar ca tambem era giro, fazemos uns passeios pela cidade, ou assim! (Definitivamente nao está a compreender o meu enfado)
- Pois acho que isto é giro por aqui. Tambem sou capaz de ir visitar um amigo meu a Shanghai (Obrigado por existires enquanto desculpa, Tó.)
- Ah que giro! Adorava ir a Shanghai. Ainda por cima se temos lá casa, ainda melhor.

Foi nesta altura que fingi que estava a engasgar-me com um golo de café e mudei o assunto para a temperatura do café em Singapura - inventei uma barbaridade qualquer que relacionava a temperatura do ar com a do café, de tal forma inconsequente que ela compreendeu que já nao havia lugar para mais Razao naquela conversa e voltou para a secretária.

Isto está-se a tornar um bocado desagradável porque acontece todos os dias. Convites para almocar, convites para jantar, convites para sair.

Dia 1:
- Did you have lunch yet?
- No.
- Do you wanna go now?
- Ok

Dia 2:
- Did you have lunch yet?
- No
- Do you wanna go now?
- Hum actually I'm not hungry..
- Ok, I'll be back in 30 minutes and we go ok?
- ...Ok

Dia 3:
- Did you have lunch yet?
- No.
- Do you wanna go now?
- No. Actually I'm in a hurry. I'll just grab a sandwich.
- Ah ok! Well me too, then! Let's go.
- ..Ok.

Dia 4
- Did you have lunch yet?
- No.
- Do you wanna go now?
- No
- Oh. Ok. 15 minutes?
- No.
- So when?
- I don't know. I'm not very hungry.
- Do tell me when you wanna go.
- Well maybe I won't have lunch today you see..
- Ah really? You're not hungry?
- Not yet.
- Ok. Tell me when you go, and we go.
- ...Ok

Dia 5:
- Did you have lunch yet?
- No
- Do you wanna go now?
- No I can't, I'm on a hurry.
- Ah me too, let's just grab a sandwich.
- No, I really need to finish this. I'll go later.
- A sandwich is really quick. Come, let's go! You need to eat something.
- I really can't!
- Actually I'm not very hungry either. 
- Ok.
- Look, when you finish that, let me know and we'll go.
- I might not finish until four..
- Ok, come by my desk at four and we'll go for a sandwich.
- ..Ok

Dia 6 
- Heyy, hung over from the weekend?
- Yeah...
- That was fun huh?? I had a lot of fun!
- Yeah, was good fun..
- So, did you have lunch yet?
- No
- Let's go?
- No. 
- Why not?
- ...
- ...
- ...
- Ok tell me when you wanna have lunch and we go
- ...
- ...
- ...
- Ok, see you later! 

Ela nem é necessariamente desagradável ou antipática, até é uma pessoa - excluindo o facto de falar demais e sem fazer perguntas, isto é, expor os seus pontos de vista sem querer saber os meus - relativamente adorável; se nao quisesse estar comigo todo o tempo até podiamos ficar amigos e fazer alguns programas, mas esta dependencia dela anda-me a matar. Tenho sérios problemas quando alguem depende emocionalmente de mim, e se é alguem por quem eu nao sinto o minimo afecto, a coisa comeca-me a desequlibrar o estado de espirito, porque fico sem maneira de escapar. Hoje apareceu-me a secretária as 6:30, como de costume:

- Heeey
- Hi. (Nesta fase do campeonato, geralmente ja so lhe falo como monossilabos)
- I'm going home..
- Ok.
- Hey give me a call when you come home. (Eis o eterno desejo das mulheres solitárias de construir artificialmente aquilo que mais se aproximar de uma vida em conjunto. Como se vivermos no mesmo predio nos fizesse viver no mesmo apartamento)
- Why? (Acho que, à excepcao de quando fui directamente rude, nunca tinha sido tao antipatico com ninguem)
- Well...we can have dinner or so.
- Well I'm not gonna eat tonight. (Que barbaridade.)
- No?? You are not eating?? Well perhaps we can hang out after dinner then..
- Ah yeah..well you know, actually, I'm going out with Pete and Kate..
- Oh cool! I'd love to go out.
- Oh. Well. (O Pete e a Kate sao os nossos amigos comuns). Why...ahm...(merda, tou encurralado)..why dont you come?
- Yeah, awesome! Should I be at your place by ten or so?
- Oh..well, why don't you call Pete? He's organising (esta jogada de mestre transfere sub-conscientemente para o Pete a responsabilidade de ir sair a noite com ela, apesar de eu tambem la estar enfiado no grupo e apesar de eu e ela partilharmos o mesmo táxi)
- Ah perfect! Well, see you later. Give me a call for dinner!
- I won't have dinner!!
- Ah ok..well give me a call after, then!
- ...

O problema nisto tudo é que nao estou bem a perceber como me vou escapar disto. Por exemplo este fim-de-semana queria-me pirar para a Indonesia mas nao consigo ir sem lhe dizer nada, porque teria sempre de dizer ao Pete, que é o meu bom amigo por cá, e ela e o Pete tambem sao bons amigos, e se eu disser ao Pete sem lhe dizer nada ela vai ficar muito chateada e nunca mais me vaiquerer...ver a frente...

...isto afinal..é capaz de nao ser assim tao má ideia.....

...vou-me mas é enfiar num ferry para a Indonesia amanha...é isso ou ir tomar o pequeno-almoco com ela..porque me vai bater a porta ao meio-dia...

Bom. Tá a tocar o telefone. Quem será?... 

... Bom, tinha que ser, nao é. 

Que chata pá.
 

Thursday, January 22, 2009

the quiet american

Eu nao vejo, porque sou o Sujeito da observacao em si, mas a imagem de mim a atravessar ruas e estradas, Singapura fora, avenidas abaixo e acima, as duas maos a segurar um livro e os olhos presos nas paginas enquanto as pernas, em calcas cinzentas-escuras, carregam o resto do corpo entre prédios, arvores tropicais e massas de gente, deve ser maravilhosa para quem a ve, e ainda melhor para quem se questiona. 
 

Monday, January 19, 2009

Consuela

Praticamente só vejo filmes em avioes. Voo pouco. Nem sempre que voo, vejo um filme. Vejo, portanto, muito poucos filmes. Mas há uma semana fiquei preso durante uma maravilhosa hora num filme chamado Elegy que infelizmente foi interrompido quando nos aproximávamos de Singapura. Felizmente, fui a tempo de perceber que era baseado num livro do Philip Roth, embora tenha demorado uns dias a ir à procura numa livraria. Quando o tive nas maos, comprei imediatamente esta obra-prima que The Dying Animal está a aparentar ser.

É estranho ficar vidrado num filme e depois ir à procura desse encanto no provavelmente grande livro em que o filme se baseia. Nunca vejo filmes baseados em livros de que gosto, mas que reaccao posso ter, agora, ao ler um livro que dá origem a um filme que adorei? 

Acho sempre que uma segunda-obra-de-arte baseada numa primeira-obra-de-arte tem inerente uma irremediável opacidade criativa. Quando essa segunda obra é criada num meio diferente (como adaptar um filme, em livro), geralmente tendo a sentir uma aberrante perversidade, porque se já me é difícil conceber que o exorcismo da Criacao possa ser reproduzido, por outrem, com qualidade, ve-lo repetir-se numa matéria diferente aparenta-se-me um exercício quase exclusivamente estético.

É, pois, com algum cuidado, que abordo este livro, pois estou agora a reverter ao original, mas infelizmente já influenciado pela cópia. A essencia que apreciei no filme pode nao estar no livro, mas se no livro encontrar outra essencia com a qual me identifique, entrarei no dilema de constatar que uma segunda-obra-de-arte (aqui, o filme) pode, embora baseada numa primeira-obra-de-arte (o livro), quebrar a barreira da sua própria identidade e sobreviver per se.



Mudando ligeiramente de assunto, aqui fica o primeiro parágrafo, que explica porque é que, mesmo sem filme, o livro é evidentemente uma deliciosa razao para viver mais um dia:

I knew her eight years ago. She was in my class. I don't teach full-time anymore, strictly speaking don't teach literature at all - for years now just the one class, a big senior seminar in critical writing called Practical Criticism. I attract a lot of female students. For two reasons. Because it's a subject with an alluring combination of intellectual glamour and journalistic glamour and because they've heard me on NPR reviewing books or seen me on Thirteen talking about culture. Over the past fifteen years, being cultural critic on the television program has made me fairly well known locally, and they're attracted to my class because of that. In the beginning, I didn't really realize that talking on TV once a week for ten minutes could be so impressive as it turns out to be to these students. But they are helplessly drawn to celebrity, however inconsiderable mine may be.