Monday, February 26, 2007
Eram dois (Good Riddance)
Sunday, February 25, 2007
YOURS. to keep
...Albert Hammond Jr faz o favor de pegar na guitarra...
...e dizer...
..."I lost my way", that's what she said!"...
...e eu, que não ando a dormir...
..ainda acordei mais...
..e agradeci-lhe..
Back to the 101
Saturday, February 24, 2007
Short stories in a life to live
- Foda-se Luís! Tás vivo! Que bom!
Friday, February 23, 2007
Drinkin' in LA @ 26
Nothing New
India Sierra
Tango Hotel Echo
Tango Hotel India November
Lima India November Echo,
Bravo Echo Tango Whiskey Echo Echo November
Lima India Foxtrott Echo
Alpha November Delta
Delta Echo Alpha Tango Hotel
Wednesday, February 21, 2007
Esta semana, em repeat
2. Interpol – C’Mere
3. Interpol – Next Exit
4. The Pigeon Detectives – I’m not sorry
5. The Cure – High
6. The Killers – For Reasons Unknown
7. Bloc Party – I Still Remember
8. Beirut – Mount Wroclai (Idle Days)
9. Red Carpet – Alright
10. Matisyahu – Jerusalem
Monday, February 19, 2007
What drives you, Mr. Archer?
Saturday, February 17, 2007
Sweet child of mine
Quando Vasco acorda de uma noite bem dormida, um raio de luz desbrava arrogante a frincha da janela. “Que estranho, tanto sol em Fevereiro.” Revira-se na cama, o iPod esquecido ao seu lado tocando ainda o embalar das onze da noite. Estica os braços até ao tecto num espreguiçar alegre e sorri para o ar. Nove da manhã de sábado. Dois dias inteiros pela frente, sem ressacas nem cigarros assassinos, sem compromissos nem telefonemas. Olha para o telemóvel em cima da mesa de cabeceira. Uma mensagem dela. Perfeito. Salta da cama em calças de pijama e pula alegre até à janela. De par em par, um rio de vida abraça-lhe os olhos fechados. Um arrepio percorre-o, quando o vento gelado penetra pelo espaço da janela que escancara. Sweet Child of Mine.
Where do we go now?
Where do we go, Sweet Child of Mine?
Thursday, February 15, 2007
"Eu não sei dançar a valsa"
Desde miúdo habituado pelo enorme avô a uma vida de farras sem sol, Mário, o corpulento Mário, vira na fragilidade de Concha a sua própria sensibilidade reflectida, porque Mário, como qualquer homem grande ou pequeno, também sentia algumas das pequenas coisas como uma mulher as sente.
Um homem potente e bem disposto, de voz poderosa e whisky sem castelo, Mário conhecera Concha num táxi partilhado num fim de noite em Albufeira, quando a frágil figura o arrastou, num asco determinado, até à porta de casa, já o Sol ia alto num verão de loucuras.
Reconhecendo-a na praia na tarde seguinte, Mário encantou-se com a sua carinha pintalgada de tímidas sardas sem cor, e convidou-a a tomar consigo um sumo de tomate, decidido a recompensar, com uma louca noite de prazer, o favor salvador do dia anterior.
Porque Concha, apesar da voz de pardalito adormecido, era uma mulher engraçada, magrinha e rija sem peso nem ossos, e de traços tão finos como a cor da sua pele quase transparente.
Ainda Mário não esvaziara o seu segundo bloody mary (na realidade, a verdadeira razão por detrás do convite para um sumo de tomate), já o seu coração inchava mais ocre do que o torpor de uma noite mal dormida, encantado, no seu rude desconforto de gigante amansado, pela sonolenta sonata de desinteresses que a tímida Concha debitava, monocórdica, através das frágeis linhas da sua boquinha ensolarada.
Nunca ninguém compreendeu como é que Mário, herói de mil noites, organizador de futeboladas, viajante de nove mares, marisqueiro de esplanada e roncador de três da tarde, se apaixonara por aquela amostra de ponto-cruz cor-de-rosa, sem encantos nem vontades, aquela magra borboleta de olhos sem expressão quase gastos por um Sol que decerto nunca vira.
E Mário, que a amara precisamente pela sua fragilidade de cristal que constantemente desafiava as suas desajeitadas manápulas a equilibrá-la sem a partir em cacos, cedo compreendeu como seria difícil abandonar a noite da carne, para amar de dia aquele coraçãozinho de pele e osso.
E Concha, que nada mais nutria por Mário do que a mesma total passividade com que assistia tanto a um tremor de terra como a uma comédia romântica de domingo à tarde, arrastava a paciência do marido como um gato adormecido arrasta a manta cor-de-rosa que lhe fica presa aos pés quando salta do colo da reformada que o acarinha.
Devagar, devagarinho, Mário, que sempre a amara pelo seu conceito, pela sua pequenina pequenez, pela graça dos seus passinhos debicados na alcatifa, pelas unhas brancas nos dedos compridos e pelas notas de piano que o acordavam, vindas da sala, aos sábados à tarde, Mário começou a compreender que Concha não era para si.
Beber um copo, Mário?
Mas Mário, já sabes que só gosto de sumo de laranja!
Jantar fora, Mário?
Mas Mário, acabei de cozer ali uma posta de pescada..
Às compras para mim, Mário?
Mas Mário, ainda ontem a minha mãe me veio trazer um caixote de roupa que já não usa..
Aos karts, Mário?
Mas Mário, assim sujo a bainha de óleo!
Para a quinta do Pedro e da Rita, Mário?
Mas Mário, não sei andar a cavalo.
Ao Douro, Mário?
Mas Mário, porque não ficamos antes cá, este fim-de-semana?
E depois, como quem não tem voto próprio, o triste salto para o abismo tão vazio que são as paredes ocas da indiferença: “Mas se quiseres, pode ser. Por mim…”
Mário, um passarão independente, teimoso como pedras de calçada, um amante da vida bem vivida, dos risos gargalhados em cubos de gelo, do abraço de um amigo e do beijo voluntário de uma mulher desamarrada, desesperava com a nulidade da sua mulher, esse alfinetezinho de dama brilhante e pequenino incapaz de segurar um entusiasmo que fosse.
Triste com o seu dia-a-dia a baixo volume e com a mosquinha de dentes direitos que o acolhia todos os fins de tarde em casa – porque Mário trabalhava, e muito, na empresa do pai – com um beijo sem brilho na face de after-shave, Mário decidiu levá-la, pela primeira vez, com ou sem o seu consentimento, a apanhar uma valente bebedeira.
“Já lá vão dois anos. Tentei levá-la a jantar, a beber uma cervejinha, a andar à vela com a malta, a ver cinema ao ar livre, a comer sapateira recheada e bife de avestruz, a visitar os sem-abrigo, a assistir ao teatro, a conhecer os meus amigos; tentei apresentá-la à minha irmã, mostrar-lhe a minha colecção de livros, convencê-la a pintarmos umas telas aos sábados de manhã; tentei levá-la aos bastidores de todos os concertos que por cá passaram, a comprar sofás novos para a sala, a beber caipirinhas em Copacabana e a mergulhar com peixes cor-de-laranja em Zanzibar; dei-lhe a provar chá de menta de Marrocos, charutos cubanos, pisco chileno, bifes das pampas, cordeiro patagónico e sushi de rã; quis levá-la à bola, à ópera, e a exposições de fotografia e a bailados polacos; quis mostrar-lhe a praia numa manhã de Inverno, um centro comercial nas tardes de domingo; tentei arrastá-la até aos promontórios da Nazaré em dias de vento e à baixa de Lisboa numa manhã de Verão; prometi, radiante, levá-la a passear de rolls royce e caravana pelos cantos do Mundo, durante um ano, dois dias, três meses ou o resto das nossas vidas; e nunca, em dois anos e vinte dias de bê-à-bás a meio-tom, consegui tirar esta flor da estufa abafada desta casa sem cor nem voz, nem para beber uma merda de um galão no café da esquina.” pensou.
E, decidido como nunca, vociferou, determinado, estafado de uma sexta de reuniões, de uma semana mal dormida, de um mês de empadão, de um Outono de roxo e de dois anos de passividade, decidido a recuperar o sorriso perdido e o oxigénio nos fortes músculos de gigante adormecido:
- Hoje, Concha, vamos para os copos juntos!
E ela, bailarina de grafonolas esganadas, libelinha de pântano seco e fada abonecada de conto de embalar crianças com tosse, soprou, como uma brisa de primavera sopra uma pena de seda, a trágica sentença da sua vida em comum, desmascarando nela a sua nulidade e mostrando a Mário, o crédulo e bom Mário, que se enganara, sem remédio, na escolha de uma mulher para a vida:
- Mas Mário, eu não sei dançar a valsa..
Wednesday, February 14, 2007
Esta semana em Repeat
- Interpol – Next Exit
- The Cure – Just like Heaven
- Iggy Pop – The Passenger
- Zero 7 – Pageant of the Bizarre
- Matisyahu – Jerusalem
- The Fiery Furnaces – Teach me Sweetheart
- Stars - Elevator Love Letter
- Placebo – Song to say Goodbye
- Kings of Convenience – I don’t know what I can save you from (Royksopp remix)
- The Gift - Wake Up
Tuesday, February 13, 2007
Monday, February 12, 2007
Wednesday, February 07, 2007
E se, do outro lado do espelho?
Alguém que visse o teu olhar ensonado quando afagas com as duas mãos o cabelo na primeira hora da manhã, chocada com o quanto ele se despenteia nas noites em que dormes sem o atar. Alguém que se risse das tuas caretas descoordenadas nos dias em que chegas alegre a casa ou que sais, no elevador, para mais um dia de sol. Alguém que não perdesse nem a mais ridícula das mil e uma expressões que ensaias antes de uma saída, quando sais do duche, quando te pintas, depois de secares o cabelo e enquanto experimentas todo o armário em busca da melhor cor para realçar o sorriso de que tanto gostas ou o colar da feira do dia antes.
E se, em momento algum, estivesses sozinha frente a um espelho, nas mil vezes que te viras e reviras quando compras um novo vestido, ou procuras, quase colada, uma imperfeição na tua pele aos sábados de manhã? Se, para cada careta descomplexada, lágrima entristecida ou raiva solitária nos teus dias maus, uma companhia que não soubesses existir te acompanhasse sem critério nem razão, um alguém indefinível e etéreo, um mistério que desconhecesses por detrás da imagem de ti que vês reflectida.
E se, do outro lado do espelho – de todos os teus espelhos – alguém arrebitasse o nariz ensonado quando finalmente aparecesses, para acompanhar com atenção desperta as tuas incertezas, as horas desconsoladas depois de um corte de cabelo que odiaste, ou a mão firme com que espalhas o desodorizante? Alguém que se risse da espuma que fazes quando lavas os dentes, e se encantasse com a forma desajeitada com que ajeitas o soutien.
Se soubesses que alguém te observa do outro lado do espelho, cantarias de toalha na cabeça as músicas que adoras quando estás apaixonada, e falarias com ele nos teus pequenos momentos de loucura? E vestias-te e despias-te assim, descomplexada, trocando repetidamente de cinto, de saia, de calças e de camisola, nessa busca tão tua pela perfeição?
E se, do outro lado do espelho, um estranho te conhecesse como nem tu a ti te conheces, um estranho atento, observador, jocoso e sensível, um estranho que te suplicasse, quando passas um lápis pelas olheiras de uma noite mal dormida, “Não, não..! Acho-te perfeita como estás, sem tintas nem adereços!”
Alguém que te olhasse e pensasse, mudo e intocável, “Meu Deus, como gosto desse castanho-claro”, quando abrisses um olho frente ao espelho e uma lágrima irritada por não ser azul ou verde te fugisse, descontrolada, pelos traços arrebitados do teu nariz.
Alguém que não se cansasse do teu olhar rotineiro, sempre igual seja bem ou mal dormido, antes de entrar no duche, e se entusiasmasse a cada novo olhar, a cada nova expressão, a cada nova manifestação dos teus entusiasmos e tristezas, sempre em busca do que fosse mais teu, diferente do dia anterior ou igual a sempre. Alguém que pulasse de uma letargia arrepiada quando limpasses o vidro embaciado com o calor da água, esticando também a mão para tocar, por fugazes momentos de vapor, os teus dedos meio dobrados, entrelaçados, quase, nos seus.
Um alguém misterioso e quase cúmplice, nunca ausente e sempre atento, alguém que não fugisse quando desligasses a luz ou saísses de um provador, ou fechasses a caixinha de maquilhagem que trazes contigo, e te esperasse a cada novo reflexo teu, a cada olhar pelo retrovisor, a cada efémera passagem por um prédio moderno.
E se, do outro lado do espelho, eu te olhasse a cada olhar teu, eu, que te penso a todo o momento, apenas a espaços recompensado por uma vaidade ou uma sorte fugaz do dia-a-dia?
E se, do outro lado do espelho, eu te esperasse, paciente reflexo de luzes acesas e estações de serviço, vivendo outras vidas e outros espelhos nas horas mortas em que não me olhasses, aguardando, sem pressionar, o agudo estridente de uma voz apertada que, tua, ouvisses e quebrasse os vidros do teu espelho e do coração blindado e opaco dos teus olhos de cristal que não me vêem, estilhaçando o teu muro de reflexos (em que não me notas, porque só te queres ver a ti) e mostrando-te finalmente a verdadeira razão dos teus complexos e vaidades, nada mais do que um carinho descontrolado e sub-cutâneo que nunca viras senão no que crias ser a tua própria imagem, um carinho desaparecido que se nutre do teu desejo por mim, fiel amante das tuas horas e incansável reflexo do amor que, afinal, procuras.
Nesse dia, em que o espelho que me protegera e afastara se despedaçar em fragmentos impotentes de luz e incertezas, cobrindo o chão, onde aterras assustada depois da surpresa inicial, de visões tuas e minhas divididas em demasiadas peças, nesse dia serias capaz de olhar-te, finalmente, nos olhos, nos teus olhos de sempre, esses olhos que, de tão teus, são os que sempre te olharam?
E eu, silencioso amante das horas mais tuas, improvável e fiel guardião da minha e tua intimidade, serei eu capaz, depois da espera sem tempo nem sol por esse momento improvável em que um bater desacelerado destrói espelhos e vidros, preconceitos e incertezas, entusiasmos e desconsolos, serei eu capaz de te abraçar finalmente?
Esta semana, em Repeat
- Matisyahu - Time of your Song
- The Cure - Friday I'm in Love
- Tegan and Sara - Living Room
- Tegan and Sara - Where does the Good go?
- Interpol - C'mere
- Babyshambles - Albion (Acoustic)
- Blink 182 (w/ Robert Smith) - All of This
- Shout Out Louds - Very Loud
- Muse - Starlight
- Islands - Tixuiit
Sunday, February 04, 2007
Eu
- Como é que é pá!
- Tão, já tás acordado?
- Acordei cedíssimo..
- Todo fodido não?
- Pá não, não bebi assim muito.
- Não bebeste muito!? Realmente, não te deves mesmo lembrar da noite!..
- Tá calado! E tu, nem te mexes?
- Porra eu tou entregue..
- Tavas bonito ontem..
- Todo comido. Ouve lá, onde é que andas?
- Tou na praia.
- Na praia!?
- Sim!
- É dia 3 de Fevereiro Luigi..
- Vim ver o Inverno.
- Ah e ele tá bom?
- Nem imaginas o quanto.
- Tu preferes o Inverno ao verão não é?
- Pá sim..
- Hum e tás a fazer o quê?
- A ouvir música..também trouxe um livro..
- E o caderno, não?
- Claro. Mas não escrevi nada. Aliás, também não li!
- Para que é que andas sempre com essa merda se depois não escreves nada?
- Para ter a hipótese de escrever, se precisar de eternizar uma ideia ou um sentimento.
- Não confias na tua memória?
- Nem pouco mais ou menos.
- És um ganda frito.
- Também o costumo dar às outras pessoas, para que me escrevam alguma coisa.
- Ouve lá, não tá frio?!
- Tá um gelo! Nem sinto as mãos. Por isso é que não te respondi à mensagem..não consigo escrever!
- Aposto que tás de t-shirt seu esquimó!
- Não pá! Desta vez tive mesmo de pôr o casaco. Trouxe um sobretudo vê lá tu!
- E não há sol?
- Tá um solzinho curtido lá ao fundo, mas já muito longe para aquecer. Tá tipo uma bola de fogo a desaparecer no mar.
- Boas ondas?
- Algumas ondas. Tá esquisito isto. O mar tá meio cinzento, entre o anoitecer e o sol que ainda resta.
- Tás de sobretudo na praia, a ouvir música e a ver o Inverno, Luigi.
- Há umas boas horas...
- Não tens mais nada que fazer?!?!
- Tenho mas não quero!
- Que desperdício de sábado!
- Tu o que é que fizeste?
- Pá acordei agora.
- E eu é que desperdicei o sábado?
- Luigi, tás numa praia quase deserta a ouvir a mesma música que podes ouvir em todo o lado, com um frio de rachar.
- E tu tás todo ressacado a coçar-te num andar no meio de uma Lisboa ensonada, a ouvir a tua mãe a lavar os pratos do almoço que nem comeste porque estavas a dormir.
- Tu e a tua maneira de ver as coisas..
- E hoje que é que se faz?
- Vamos pós copos. Queres ir aí jantar com os gajos?
- Pá tou um bocado cansado hoje. Mas bora. Não sei. Logo vejo. Tenho umas merdas já combinadas. Ligo-te logo.
- Tá. Já sei que não vens, mas pelo menos ontem vieste!
- Vão insistindo, que eu vou aparecendo!
- Ainda te vais tornar um louco da noite..dá-me só mais uns mesinhos!
- Não digo que não..!
- Vá pá, té logo. Eu ligo-te quando souber o restaurante.
- Tá bem! Um abraço pá.
Saturday, February 03, 2007
Tuesday, wednesday..heart attack
Friday, February 02, 2007
Vida e Morte de Márcio
- Ahn?
- O que é que tás aqui a fazer?
- Aqui aonde?
- No blog do Luís!
- Não sei, o gajo inventou-me e deixou-me aqui especado.
- Mas tás aqui quieto sem fazer nada?
- Nada pá.
- Achas qué é por te chamares Márcio?
- Acho que não. Acho que se fosse por isso, ele nem sequer me tinha inventado..
- Se calhar inventou-te só para olhar para ti e dizer "Foda-se, que merda de nome."
- Ah e quê, tá a olhar para mim e a rir-se do meu nome, neste momento, é??
- Espertalhão. Topaste-o bem!
- Então tas aqui a fazer o quê tu?
- Vim-te dizer que te podes ir embora.
- Para onde?
- Para o sítio de onde vieste!
- Eu acabei de ser inventado pá! Sei lá de onde vim! Sei lá onde é que o gajo vai inventar as personagens dele, porra! Ele cria-as, mete-as aqui neste vazio e depois, se se farta delas, não tem onde as meter!
- Pois, é o problema das personagens, nunca morrem.
- Que bom, safei-me.
- Safaste-te não, tas condenado a uma fútil existência de personagem secundária.
- Só por me chamar Márcio?!
- Não sei, sei lá porquê! Eu é que achei que ele te quisesse mandar embora por causa do teu nome ridículo. Mas na verdade não sei. Realmente até és um tipo porreiro.
- Olha lá, mas o gajo agora… como é? Vem um gajo com um nome igual ao meu ao blog dele, vai ficar fodido com ele pá.
- É capaz. E tudo por culpa minha que insinuei que ele não curtia esse nome.
- Mas ouve lá, tu também és criado por ele não és?
- Não sei bem se sou criado por ele ou se sou ele mesmo. É um problema com o gajo pá. Ele nunca sabe bem quanto de cada personagem é ele mesmo.
- Então achas que eu posso ser um bocadinho ele, também?
- Pá no teu caso, acho que não. Não tens hipótese nenhuma. Acho que és mesmo um acessório.
- Uma criação espontânea que ele, por nenhuma razão aparente, decidiu publicar e condenar, assim, a uma eterna inutilidade??
- Sem tirar, nem pôr.
- Merda! Então e tu? Achas que és o Luís?
- Não. Pá eu, se vires bem, também não valho grande coisa. Mas tenho uma vantagem: como não tenho nome, não sabes quem eu sou. Logo, posso ser uma das muitas personagens que o Luís já inventou. Ou posso vir a ser utilizado em textos futuros, sei lá. Se reparares, não tou aqui muito exposto. Aliás, vou-me pirar, tou farto disto.
- E eu, fico aqui?
- Tu não, tu vais embora!
- Mas como pá?!
- Bom, como uma vez criado não podes desaparecer, o Luís pediu-me, mais ou menos há cinco linhas atrás, que arranjasse uma solução de compromisso.
- E qual é? Qual é?!?
- Vou-te pintar de branco, que é o mais perto de transparente que há nas cores de um blog.
- Enfim…
- É o teu fim Márcio. E só por atrofio é que alguma vez exististe!
- E o que é que os leitores disto vão achar??
- Provavelmente que isto foi uma merda dum post!
- E o Luís não se importa?
- Pá sei lá. Acho que não.
Tegan and Sara

Gémeas.
Canadianas.
Lésbicas (mas não uma com a outra, espero).
Nomeadas para "Best Alternative Album" nos Juno 2006.
Não preciso de MAIS NADA.
Versões ao vivo no YouTube - atenção, parte corações:
Living Room
Thursday, February 01, 2007
Jorge
Talvez tenha sido isso o que atraíra Júlia.
Pobre Júlia. Pobre e matreira Júlia, velha raposa da noite nos seus magníficos trinta anos. Rijos, seguros e altivos trinta anos. Trinta anos de orquídeas loiras e suores de homem. Pobre Júlia, jovem ninfomaníaca, louca no seu desejo incontrolável e faminta de uma vida regrada.
Jorge jamais desconfiara, no seu cego amor pela única mulher que o olhara (também a única que alguma vez se apercebera da sua fortuna escondida), que a sua testa enrugada teria dois novos amigos desde o primeiro dia de aliança enfiada. Era um preço que, mesmo no seu tímido beco-sem-saída sentimental, apenas a custo estava disposto a pagar pela companhia de Júlia. Jorge odiava o seu par de cornos. Jorge odiava quando ela se escapulia, entre lágrimas, em busca do alimento que ele, frágil macho, não lhe fornecia.
Que já voltava, Jorge. Que ía só às compras, Jorge. Que ía tomar cafés com uma amiga, Jorge.
“Sua puta. Um dia pagas-mas.”
Mas Jorge não a punha fora de casa: Jorge, o pobre diabo, deixou-se encantar pelos refogados de Júlia, espantosa cozinheira de mil e uma delícias. Jorge, que nunca gostara de comer, alambuzava-se com os doces da manhã, os cozidos do almoço e os fritos do jantar. “Um dia, ponho-te na rua, sua grande vaca, e vais passar fome, sua devassa.”
Mas não, Jorge não a largava. Júlia viciara-o na sua comida. Júlia, essa doente, a pobre Júlia, perdia dias e dias na cozinha, alimentando com a sua colher de pau as saídas da madrugada. “Tens aqui, Jorginho. Come, come, meu querido, que eu já venho.”
E o enraivecido Jorge alambuzava-se, numa luxúria impotente, e chorava por mais uma colherada de arroz enquanto a mulher batia com a porta, na sua luta diária por outras comidas, outros prazeres. Outras necessidades.
Pobre Jorge, que aos poucos se tornou bem constituído, e daí a forte, e depois gordo, até um ser um cornudo balofo e trilionário.
No momento em que Júlia se despediu do seu milésimo homem, Jorge suspirou meio pernil de borrego num arroto monumental, admitindo consternado, com as mãos aos céus, “Sou um obeso de duzentos quilos com um par de cornos que fura o tecto e mil milhões de Euros no banco. Vou dar um chuto no cú a esta puta cozinheira.”
E quando ela chegou, pegou-a pelos longos cabelos loiros e, olhando-a da mais nobre escuridão dos seus embriagados olhos negros, beijou-a na face. Largando-a, ergueu triunfante o braço esquerdo, esticou o dedo anelar e puxou, com a mão direita, a aliança dourada, bradando enlouquecido: “Júlia, fico com os cornos, que só mil mais dois os conhecemos, mas não fico contigo, sua devassa sem vergonha. Basta de ti. Basta. Vai morrer na rua, tu e a tua fome de puta refogada.”
Ela, sorrindo, esperava, segura, o óbvio: a aliança não saíu. Jorge puxava, redobrava-a, espetava os seus dedos sapudos na carne espessa, mas a aliança não se movia. Cinco anos de azeite e óleo Fula, batatas do Algarve, açúcar castanho e manteiga de amendoim.
“Não, Jorge. Não sai. És meu.”
E, batendo com a porta, Júlia saíu para o mil e um, primeiro do segundo milénio de um total de cinquenta mil homens com quem dormiu na vida, engalanada nas suas roupas caras e sorriso de menina retocada. Júlia, a pobre ninfomaníaca, milionária em plásticas e cozinhados, esposa de um cornudo redondo, perdido no seu esqueléctico casamento e na sua balofa e eterna fome.
E Jorge, ouvindo a porta bater, cego de raiva e esganado de fome, devorou um leitão inteiro, e não percebeu – nunca! - que com a faca que cortava o bife de todos os dias poderia decepar o maldito dedo.
Pobre Jorge, gordo enfastiado, com um dedo a mais e juízo a menos, refém de putas e complexos.
(Jorge é inspirado num advogado gordo com quem acabo de discutir, durante longas horas de madrugada, um contrato de compra e venda. Por certo que esse real advogado é casado, senão esta história não existiria: eu bem lhe vi a esganada aliança. Menos certo é alguma vez ter sido tão magro como Jorge nos seus tempos de solteiro.)