Tuesday, December 02, 2008

black-white-orange


Os Penguin Classics estao com edicoes absolutamente maravilhosas. Há todo o tipo de Penguin Classics, em termos de aspecto, e, na maioria dos casos, sao objectos deliciosos, mas neste caso em concreto estou-me a referir às edicoes com a banda preta em baixo, uma faixa branca no meio e uma pintura, da época à qual a obra se refere, na parte superior. Estas edicoes sao objectos de arte por mérito próprio. E nao é só a escolha cuidadosa das pinturas e a sua conjugacao com o conteúdo dos livros e com o próprio esquema de cores preto-laranja-branco da capa, é a textura dos livros, também, rugosa e mate na parte preta e, depois, suavemente plástica e ligeiramente brilhante na parte da pintura.

Já há vários meses que estas edicoes me têm chamado a atencao e que as percorro, secretamente, com dedos cuidadosos, de cada vez que entro numa livraria, mas foi noutro dia, quando comprei uma compliacao de short-stories do Herman Melville chamada Billy Bud and Other Stories que me apercebi do valor que tinha nas maos - o vendedor pegou no livro, virou-o, revirou-o, passou-o pelo laser, olhou para mim, e disse "You know, it's not only a great book, it's such a great object, too, isn't it?"

Estou aqui a falar de objectos que têm um valor absolutamente material. Istao sao livros que eu facilmente comprava só para ter. É evidente que nao me interessa ter um livro se nao o ler, mas apectece-me te-los todos, poder olha-los todos os dias, ir a uma estante e tirar um arbitrariamente, perder minutos na sua capa, abri-lo e reabri-lo indefinidamente, revira-lo nas minhas maos, afaga-lo, sentir o plástico luminoso da imagem passar à superfície porosa da parte preta. Te-los, a todos, e escolher um todas as semanas, ou todos os meses, ou todos os dias, e te-lo na mesa-de-cabeceira para ler, e quando acabasse voltar a po-lo na estante - a minha estante - e tirar outro para a semana seguinte.

O que me fascina, apesar de tudo, nao é a componente material, é a beleza dessa componente quando se tem em conta o valor do que o próprio objecto encerra, isto é, o texto. É assombroso o que estas edicoes conseguem: criar, mesmo perante o valor incalculável dos textos que encadernam, livros que valem também - e muito - enquanto objecto.

Talvez até me permita ir ao ponto de dizer que cada uma destas edicoes sao duas obras de arte.

Eis alguns exemplos (o último dos quais foi o primeiro - e de longe o mais soberbo - livro que li este ano):





(Sem ser minha intencao entrar aqui com materialismos, porque o valor destas edicoes ultrapassa o que seria um preco razoavel a pagar por elas, aproveito para lembrar que estas edicoes - precisamente estas, as de banda preta, tira branca e pintura no cimo - sao as edicoes mais baratas de qualquer livro. Nesse sentido, estamos, quanto a mim, perante um fenómeno incompreensível, de tao bom que é.)

1 comment:

RR said...

Concordo, são realmente um encanto.