Thursday, August 03, 2006

Uma certa classe de gente

UE, Espanha, Brasil, e os já esperados Venezuela e Bolívia enviaram mensagens de melhoras a Fidel Castro, diz o Público de hoje.

E eu a pensar que a malta queria era que ele morresse.

Concordo mais com o Governo americano, aqui citado pelo mesmo jornal: “Não há qualquer alteração do status quo. O ditador passou o poder para o guarda da prisão. Raul quer impor-se ao povo cubano, tal como o irmão o fez. Por isso não há nenhuma intenção [dos EUA] de fazer qualquer gesto de aproximação."

Isto está em alguma dissonância com a posição da UE: "rápidas melhoras a Fidel Castro e à democracia cubana."

A UE deseja, portanto, as melhoras a Fidel. E à democracia cubana. Coerente?

E, para além de incoerente, que sentido faz apoiar intervenções pró-democráticas pelo Mundo fora (excepção à entrada no Iraque) e depois desejar as melhoras ao maior anti-democrata dos nossos dias (empatado com o amigo Kim)?

A figura do político europeu está a cair na vergonha, na incoerência e no clientelismo máximo. É mais ou menos: “Volta Fidel. Somos teus amiguinhos. Gostamos de charutos. Mas também gostamos de democracia, não te esqueças.”

Então? Em que ficamos? Apoiamos este gajo ou não? É que se sim, nunca pareceu e, se não, queremos é que ele apodreça no hospital!!

Independentemente desta minha surpresa com a posição da UE (e da Espanha, e de outros que terão enviado o seu telegrama), é esta mesquinha preocupação tão diplo-democrática em agradar a gregos e a troianos que me enerva.

Não há leadership, não há um rumo, não há coerência nas posições públicas. O político que quer sobreviver tem de dar com uma mão e tirar com outra, tem de utilizar com mestria o “mas”, “porém”, “no entanto”.

Que nojo me faz esta classe.

"Queremos que voltes. Mas também queremos que sejas um democrata liberal."

Toda a gente sabe que isto não é possível, mas compra votos à esquerda ("as melhoras, Fidel") e à direita ("as melhoras, democracia").

E se o que os eleitos fazem é procurar a reeleição, para que os elegemos?

Se calhar, mais valia ter um Fidel. Pelo menos, sabíamos com o que contar.

As melhoras.

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