Monday, December 24, 2007

Um ano bom



2007 foi um bom ano.

Nunca é muito bom viver a vida em períodos, como se isto não fosse um percurso contínuo sem fragmentos independentes, mas dá jeito parar alguns minutos e reconhecer o que foi bom.

Na realidade, não há outra razão para viver que não a acumulação de boas memórias. No fim, tudo terão sido memórias; que peso na consciência!, que desperdício!!, se não tiverem sido boas.

2007 trouxe-me um mergulho com 20 tubarões de três metros durante meia hora. Passei horas e horas debaixo de água a ver as maravilhas de um mundo à parte nos mares mais transparentes. Aprendi a dançar salsa afogado em Mojitos. Subi e desci vulcões. Pesquei à linha num céu limpo até ao dia nascer. Procurei pumas em florestas virgens. Senti-me sozinho no Mundo. Senti-me Rei do Mundo.

Fiquei fluente em espanhol, melhorei o francês e o alemão e já consigo pensar em inglês sem ter de traduzir.

Andei pelo México, pelo Belize, pela Guatemala, por Cuba, pelas Honduras, pela Nicarágua, por El Salvador e pela Costa Rica.

Saí à noite em Nova Iorque, Londres e Lisboa (aqui, em doses desnecessariamente excessivas), para além das capitais de toda a América Central.

Vi, como sempre sonhei, a Cuba de Fidel.

Em 2007 fiz vários amigos de intensidade e intimidade eterna, pelos quatro cantos do Mundo. Emigrei em Outubro e deixei para trás um mundo de boas memórias.

Voltei a acreditar que existem mulheres perfeitas e apaixonei-me duas ou três vezes. (Para além daquelas em que não fui correspondido - mas há coisas piores.)

Em 2007 encontrei um grupo de pessoas com quem partilhei os melhores momentos da minha vida, defini o meu espaço e as minhas prioridades. Comprei mais roupa por minuto do que em todos os outros anos juntos - acho que estou mais vaidoso.

Passei o ano sem carro e, mais de metade, sem emprego. Agora que penso, estive de férias de Maio até Outubro.

Usei o tempo em pores-do-sol na praia, madrugadas em frente ao rio, viagens de jangada por rios castanhos, desamores latinos, percursos de mota de cabelos ao vento e labirínticas travessias pelas mentes dos maiores autores que já viveram.




Descobri mais de vinte bandas que me levantam os pés do chão e nunca devo ter gasto tanta energia a tocar bateria no espaço vazio. Sim, em 2007 deixei crescer asas e tornei-me num videoclip. (Mas ninguém sabe, continuam a achar que estão a falar com uma pessoa.)

Em 2007 descobri que Inglaterra afinal até é uma país do Terceiro Mundo, porque não há outra maneira de explicar que se encontre mais amor e carinho num banco de autocarro em San Salvador do que em toda uma carruagem no metro de Londres.

Seja como for, este ainda não foi o ano em que isso foi suficiente para eu achar que é mau viver num país rico. Na verdade, em 2007 aprendi a dar ainda mais valor ao que tenho e às oportunidades que me foram surgindo.

Este foi um ano de pessoas. Um ano de amizades puras, de corações a bater fortes, de emoções à flor da pele. Um ano de gargalhadas e arrepios.

Em 2007, andei de carro, mota, autocarro, scooter, carroça, comboio, metro, cavalo, tuc-tuc, ferry, lancha, barco a remos, bicicleta com pedais, bicicleta sem pedais, táxis legais, táxis ilegais e, mais do que gostaria, avião.

Também andei a pé - 2007 foi mais um ano sem carro.

Foi, ainda, o ano em que publiquei um livro. Sim, agora que penso, para além de ter arranjado o emprego duma vida, viajado durante quase quatro meses, ter passado seis meses de férias e me ter mudado para Londres, em 2007 ainda tive a boa sorte de ver o meu nome nas bancas da Fnac.

Seja como for, o melhor deste ano foi que andei de olhos bem abertos. Vi mais do Mundo do que alguma vez tinha sonhado ver em tão pouco tempo, e quem conhece o Mundo conhece as suas pessoas.

Sim, 2007 trouxe-me o acesso a muitos corações, muitas alegrias e tristezas, muitas angústias e satisfações.

Um ano muito rico 2007, tão rico que gastei muito mais do que ganhei - felizmente estes últimos dois meses estão a ajudar a equilibrar o orçamento.

Um ano bom. Tão bom tão bom que nem nos seus primeiros minutos, quando estava vestido de Dupont a dar beijinhos a uma Minnie, poderia imaginar que as coisas podiam melhorar.

Que bom.

E o melhor, necessariamente, ainda está por vir!..

11 comments:

Sónia Balacó said...

A inveja e o aplauso:

"Sim, em 2007 deixei crescer asas e tornei-me num videoclip. (Mas ninguém sabe, continuam a achar que estão a falar com uma pessoa.)

Em 2007 descobri que Inglaterra afinal até é uma país do Terceiro Mundo, porque não há outra maneira de explicar que se encontre mais amor e carinho num banco de autocarro em San Salvador do que em toda uma carruagem no metro de Londres."

=)

filipe canas said...

Que bom LP do M.

dupond

Pedro said...

Maravilhoso…
Estás a viver o que muitos ambicionam mas muito, muito poucos o conseguem…
Forte abraço

Xavier said...

Andei pelo México, pelo Belize, pela Guatemala, por Cuba, pelas Honduras, pela Nicarágua, por El Salvador e pela Costa Rica.

FB said...

Só te posso desejar um 2008 pior que 2007! Continuará a ser certamente um ano bom, mas não terei de ler uma posta destas no final do próximo Dezembro e sentir que a minha vida é pequenininha...

Amarcord said...

Adorei. Do princípio ao fim.

"e isto é só uma pequena parte.."

m said...

E quando plantas a árvore?

Amarcord said...

Já tiveste o filho??

Shrek said...

que bom que é LPM

já deve ter escrito a expressão "cabelos ao vento" umas mil (1000) vezes neste blog.

Um magnifico ano sem duvida. Esqueceste-te de mencionar as práticas constantes colectivas, mas isso são outras aguas.

Um m'abraço

Lorena said...

O texto tá bom.

Mas e a música?

Essa sim é fabulosa!

Embora saiba que o novo CD não será assim tão dançante, não deixa de ser um belo aperitivo.

Unknown said...

Espero que 2008 seja tão bom ou melhor que 2007. Seja um ano de experiencias, de pessoas, de corações cheios.

Parabéns pelo livro e espero que seja um sucesso... porque escreves como ninguém!

Beijinhos e bom ano**