Sunday, December 30, 2007

músicas soltas

Gostei imenso de ver isto ao vivo em Londres. Vale a pena partilhar. Também vale a pena ir vê-los a Lisboa, se ele cá vierem. http://www.myspace.com/thedoband. Energia pura.
Depois, porque a banda sonora disto deixou de funcionar, fica aqui um link http://www.myspace.com/lofifnksweden, depois de muitos pedidos.
E este post sem gracinha fecha 2007. É assim.

Friday, December 28, 2007

Nickelback

Uma recente votação, organizada por um painel de especialistas, elegeu Nickelback como a banda menos relevante da actualidade. Segundo o comunicado do painel - encabeçado e constituído por um ouvinte de fino ouvido - "a banda não produz nada de jeito e tem um airspace exponencialmente superior ao merecido". O painel, conhecido órgão de audição e, por vezes, divulgação, de música de qualidade, choca-se ainda perante a "desmerecida exposição de Nickelback" e "o excesso de vezes a que o público português e mundial é obrigado a ouvir as suas canções na rádio." Num registo menos agressivo, o painel afirma ainda que "a voz de Chad Kroeger é pedante e falsamente coitadinha", terminando com a sugestão de "deitar para o lixo qualquer cd que quem quer que seja possua da banda" e "eliminar ficheiros de mp3 cujo nome comece por Nickelback."
O painel é um órgão independente e incorruptivel, presidido e constituído por El-Gee, que sou eu.

Wednesday, December 26, 2007

Viver para Sempre

Ganhei um súbito respeito e admiração pelos velhos. Velhos e velhas. Gente velha. Idosos, que é como se trata agora - como quem chama homossexuais aos maricas, ou países em vias de desenvolvimento ao Terceiro Mundo, ou primeiros-ministros aos ratos de partido que lambem mais botas; bom, indo ao que interessa -, as pessoas velhas.
Estava sentado num banco de aeroporto a passear-me sem noção de gravidade pelos jardins amarelos de Windsor for the Derby , quando um senhor para lá da barreira dos 80 anos se arrastou lentamente até ao banco à minha frente, se sentou e me sorriu timidamente.
"Coitado", pensei eu, "place your ear to the ground, you'll hear a voice", e desliguei o iPod porque já estava a sonhar com a letra da música. "Coitado", voltei a pensar, "deve-se sentir complexadíssimo a andar tão devagarinho e com aquelas pernas tão frágeis, entre a dinâmica acelerada destas gentes de aeroporto.
Mas depois comecei a imaginar o que levaria aquele velhote a ter de apanhar um vôo. O meu avô, por exemplo, não pode voar, diz que lhe faz mal aos ouvidos. Mas aquele senhor - vamos chamar-lhe Samuel, que é um nome internacional e ele não tinha ar de português -, o Sr. Samuel estava ali com um objectivo e obviamente uma necessidade inerente de transporte. Ele necessitava de ir de um lugar a outro. Havia acção na sua lenta vida.
O Sr. Samuel, aos 80 anos, estava - e está, espero (embora se trate de um desconhecido que me deveria ser indiferente) - vivo. Activo. Há acção na sua vida. Um propósito. Uma Personalidade, para lá do "velho".
Que série de acontecimentos na vida deste velho, pensava eu, levaram a este momento? E mais, que se andou a passar na vida dele durante tanto tempo? Este homem já cá anda há anos e anos e anos, já deve ter feito mil coisas, guiou mil quilómetros, conheceu mil mulheres, teve mil filhos e bebeu o leite de mil vacas e o vinho de mil uvas. Para além das outras mil coisas que fez.
E foi aí que eu percebi o pouco que sei da vida e o pouco que fiz.
E percebi, também, que não tenho garantia nenhuma de chegar à idade do Sr. Samuel e que, provavelmente, a esperança de vida para mim é inferior à idade dele.
E olhei então para os meus pézinhos de 24 anos, convencidos que vão a todo o lado e que são ágeis para sempre, e comparei-os com os ossos fracos do meu colega de aeroporto; e reparei que os meus pés correm muito mais rápido do que os dele, hoje, mas que eu não fazia idéia de quão rápido aquele homem terá conseguido correr nos seus melhores dias, nem como foram e onde foram os seus melhores dias, nem que tipo de homem ele foi quando tinha a minha idade, nem se era melhor ou pior que eu nas mil e uma variáveis da vida na terra.
A única garantia que eu tinha e tenho é que o Sr. Samuel viveu até aos 80 anos e estava exactamente no mesmo sítio que eu.
E imaginei então quantos amigos do Sr. Samuel já estariam mortos, e quantos colegas de trabalho, de faculdade (se tiver andado na faculdade), e de liceu, e quantos vizinhos da sua rua de infância e quantos filhos de amigos dos pais dele nascidos no mesmo ano.
Aos 80 anos, cheguei eu à conclusão, o Sr. Samuel é um sobrevivente da sua geração. É um dos mais fortes de todos, não morreu à nascença, nem em bébé, passou a infância e a adolescência, passou os 30, e os 40, os 50, os 60, os 70 e os 80.
Sobreviveu a doenças, ao frio, ao calor, a desastres de auto-estrada, a atropelamentos, a envenenamentos, a porradas, a bulhas, a intrigas, a mesquinhices, a empurrões, a temporais; não se afogou no mar nem se sufocou em lado nenhum, não ficou preso num incêndio nem foi vítima de um tremor de terra. Protegeu-se do frio no Inverno, alimentou-se decentemente, resistiu ao fumo do tabaco que o rodeou durante toda a vida e não sucumbiu às malhas do alcool ou das drogas.
O Sr. Samuel, como todos os velhos que andam pela rua à nossa volta
- os "coitadinhos", os "inúteis", os "pesos", os "chupa-recursos-do-Estado", os "atrapalhas", os "distraídos", os "pitosgas", os "doentes", os "teimosos" -
é um homem forte e viveu muito mais do que a maioria das pessoas.

E o Sr. Samuel estava no sul da Europa. Que dizer de um velho noruguês ou russo, em 80 invernos a -20ºC? São todos, até prova em contrário, muito mais homens do que eu provavelmente vou ser, a alimentar-me desta maneira de café e peixe-cru.
E por isso, agora, olho cada velho com o respeito que me merece um sobrevivente, o respeito perante alguém que soube e conseguiu fazer aquilo de que todos nós andamos atrás, desde o princípio, desde a primeira luta entre tribos, desde o primeiro roubo de comida, passando pelos alquimistas da idade média, até aos laboratórios de pesquisa contra o cancro dos dias de hoje: viver o máximo possível.
Os velhos já cá andaram. Eu ainda não. Eu não sei nada.
Eu, nós todos, o que queremos mesmo é chegar a velho. Quem não quer chegar a velho não quer consumir tempo. Quer morrer.
Na luta-base de todos os homens - a sobrevivência - os velhos são mais bem sucedidos do que os outros todos.
É a matemática da vida.

Monday, December 24, 2007

Um ano bom



2007 foi um bom ano.

Nunca é muito bom viver a vida em períodos, como se isto não fosse um percurso contínuo sem fragmentos independentes, mas dá jeito parar alguns minutos e reconhecer o que foi bom.

Na realidade, não há outra razão para viver que não a acumulação de boas memórias. No fim, tudo terão sido memórias; que peso na consciência!, que desperdício!!, se não tiverem sido boas.

2007 trouxe-me um mergulho com 20 tubarões de três metros durante meia hora. Passei horas e horas debaixo de água a ver as maravilhas de um mundo à parte nos mares mais transparentes. Aprendi a dançar salsa afogado em Mojitos. Subi e desci vulcões. Pesquei à linha num céu limpo até ao dia nascer. Procurei pumas em florestas virgens. Senti-me sozinho no Mundo. Senti-me Rei do Mundo.

Fiquei fluente em espanhol, melhorei o francês e o alemão e já consigo pensar em inglês sem ter de traduzir.

Andei pelo México, pelo Belize, pela Guatemala, por Cuba, pelas Honduras, pela Nicarágua, por El Salvador e pela Costa Rica.

Saí à noite em Nova Iorque, Londres e Lisboa (aqui, em doses desnecessariamente excessivas), para além das capitais de toda a América Central.

Vi, como sempre sonhei, a Cuba de Fidel.

Em 2007 fiz vários amigos de intensidade e intimidade eterna, pelos quatro cantos do Mundo. Emigrei em Outubro e deixei para trás um mundo de boas memórias.

Voltei a acreditar que existem mulheres perfeitas e apaixonei-me duas ou três vezes. (Para além daquelas em que não fui correspondido - mas há coisas piores.)

Em 2007 encontrei um grupo de pessoas com quem partilhei os melhores momentos da minha vida, defini o meu espaço e as minhas prioridades. Comprei mais roupa por minuto do que em todos os outros anos juntos - acho que estou mais vaidoso.

Passei o ano sem carro e, mais de metade, sem emprego. Agora que penso, estive de férias de Maio até Outubro.

Usei o tempo em pores-do-sol na praia, madrugadas em frente ao rio, viagens de jangada por rios castanhos, desamores latinos, percursos de mota de cabelos ao vento e labirínticas travessias pelas mentes dos maiores autores que já viveram.




Descobri mais de vinte bandas que me levantam os pés do chão e nunca devo ter gasto tanta energia a tocar bateria no espaço vazio. Sim, em 2007 deixei crescer asas e tornei-me num videoclip. (Mas ninguém sabe, continuam a achar que estão a falar com uma pessoa.)

Em 2007 descobri que Inglaterra afinal até é uma país do Terceiro Mundo, porque não há outra maneira de explicar que se encontre mais amor e carinho num banco de autocarro em San Salvador do que em toda uma carruagem no metro de Londres.

Seja como for, este ainda não foi o ano em que isso foi suficiente para eu achar que é mau viver num país rico. Na verdade, em 2007 aprendi a dar ainda mais valor ao que tenho e às oportunidades que me foram surgindo.

Este foi um ano de pessoas. Um ano de amizades puras, de corações a bater fortes, de emoções à flor da pele. Um ano de gargalhadas e arrepios.

Em 2007, andei de carro, mota, autocarro, scooter, carroça, comboio, metro, cavalo, tuc-tuc, ferry, lancha, barco a remos, bicicleta com pedais, bicicleta sem pedais, táxis legais, táxis ilegais e, mais do que gostaria, avião.

Também andei a pé - 2007 foi mais um ano sem carro.

Foi, ainda, o ano em que publiquei um livro. Sim, agora que penso, para além de ter arranjado o emprego duma vida, viajado durante quase quatro meses, ter passado seis meses de férias e me ter mudado para Londres, em 2007 ainda tive a boa sorte de ver o meu nome nas bancas da Fnac.

Seja como for, o melhor deste ano foi que andei de olhos bem abertos. Vi mais do Mundo do que alguma vez tinha sonhado ver em tão pouco tempo, e quem conhece o Mundo conhece as suas pessoas.

Sim, 2007 trouxe-me o acesso a muitos corações, muitas alegrias e tristezas, muitas angústias e satisfações.

Um ano muito rico 2007, tão rico que gastei muito mais do que ganhei - felizmente estes últimos dois meses estão a ajudar a equilibrar o orçamento.

Um ano bom. Tão bom tão bom que nem nos seus primeiros minutos, quando estava vestido de Dupont a dar beijinhos a uma Minnie, poderia imaginar que as coisas podiam melhorar.

Que bom.

E o melhor, necessariamente, ainda está por vir!..

Sunday, December 23, 2007

All the time in the World

Entrar no quarto. Olhar em volta meio distraído. Colunas. Rodar para a direita. Play. Que bom.


(Sim; Thom Yorke)