Monday, February 02, 2009

Solidao (all gone slow motion)

Num ano que comecou em euforia e se tem mantido em altos niveis de entusiasmo, este foi o primeiro momento verdadeiramente triste:


É um momento de solidao tao profunda que eu próprio ia chorando, se todo o líquido do meu corpo nao estivesse naquele momento a suar pelas costas abaixo numa quente noite em Bangkok.

É tao triste ver um grande atleta como o Federer desesperadamente, torneio apos torneio, a tentar regressar a numero 1 do Mundo, e já nao conseguir!

Com 27 anos, supostamente no pico da carreira, um jogador soberbo, o melhor jogador que o Mundo viu durante anos a fio, ainda um grande jogador, a anos-luz de qualquer terceiro melhor, ainda a jogar quase tao bem como sempre jogou, ainda a treinar como um doido, ainda jovem, ainda a querer ganhar, a querer chegar lá, e sem conseguir!

Que difícil e solitária é a rota de Federer, sabendo que já foi de longe o melhor de todos e que, apesar de ainda ser espantoso, já nao é o melhor e provavelmente já nao vai conseguir!!

É terrível. Luta e luta e luta, mas alguém mais novo, mais forte e com mais energia já nao o deixa voltar lá. Nao é horrível? Um jogador no topo de forma, esmagadoramente superior a qualquer outro excepto um, jovem e com anos de ténis pela frente, já nao chega ao topo!, porque apareceu um que mesmo que nao seja melhor, é mais forte!

O Federer nao é um numero dois. Um jogador que foi durante anos e anos e anos numero um, odeia ser numero dois!

Tudo o que ele mais deseja é voltar a ser numero um. Tem 3 ou 4 anos de ténis pela frente, nao é velho nenhum, é um atleta perfeito na forca da idade, mas, apesar de tudo é demasiado velho, parece demasiado velho.

Que solidao. Treinar todos os dias, dar o maximo, saber que limpa qualquer um menos um, e que esse um nunca mais o vai deixar voltar a ser o primeiro. Tres ou quatro anos de treino duro duro duro, a limpar tudo e todos e a saber, a cada dia que passa, que provavelmente nao vai chegar nunca mais ao topo.

Um atleta de topo, a treinar a niveis de topo, sem conseguir chegar ao topo.


É de uma tristeza avassaladora. "God, it's killing me!" 

It's killing me!, e corroi-se todo por dentro, em frente a milhoes de pessoas, olha para ele proprio e parece perguntar "O que é que eu posso fazer para ganhar a este gajo!"

Parece um fim de carreira. Parece aqueles grandes desportistas que se mantém em competicao já meio envelhecidos, e devagarinho vao fazendo menos resultados, até desaparecerem sob uma última e comovida ovacao. Faz-me lembrar o Agassi, aos 35 anos - ainda a jogar, a fazer meias-finais e finais, e a despedir-se quando já nao dava para mais.

Sinto uma agonia enorme ao olhar para o Federer e pensar que, na cabeca dele, provavelmente continuar no tenis faz cada vez menos sentido - lutar todos os dias e a cada que passa, ficar mais longe do único lugar onde ele realmente cabe, que é como numero um.

Acho que neste post o Maradona tem imensa razao quando diz que "o que estamos a observar entre o Federer e o Nadal é, talvez, o que seria inevitável acontecer se todas as décadas fossem beneficiadas por dois inigualáveis jogadores de ténis separados por 5 anos de diferença."

O Nadal também teve a sua dificil escalada, muito dificil, também ela por certo com momentos de dúvida e frustracao, de eterno numero dois e not good enough; mas apesar de tudo isso foi na fase ascendente da carreira dele, e a solidao do Federer é no topo da carreira, ou no que parece ser um ocaso antecipado.

É uma tristeza. Uma tristeza. Agora que, depois dos horários australianos me desabituei de ver futebol, a única história desportiva que me realmente interessa é a do Federer; que é, já agora acrescento, o meu jogador preferido desde uma batalha infindável com o Tommy Haas no Austalian Open de 2002, ainda era ele numero 13 do Mundo.

 

1 comment:

D.L said...

Parece-me dificil nao sentir que testemunhamos um pouco de historia desportiva a cada final que assistimos entre estes dois.

Pareceu-me sempre dificil admirar o Roger pela forma como espezinhava cada adversario e como relativizava este desporto e acima de tudo pela forma evidente como caminhava a largos passos para ser um dos melhores tenistas de todos os tempos. Senao ate mesmo O melhor tenista de todos os tempos.

Mas, como em tantos outros despiques, sejam eles desportivos, intelectuais, politicos e por ai fora necessitaremos sempre de um ponto de referencia. Um nemesis que nos demonstre e enquadre nao so o talento como tambem, como ficou visto nesta final, a humildade e a dor em reconhecer que por muito que forcemos os recordes que tomamos por imbativeis e inquebraveis até um super heroi tem a sua kriptonite.

Eu vejo agora, e talvez mais do que nunca, que a ironia esta na pureza da falabilidade. Na genuinidade da derrota que ai sim transforma um campeao vergado numa lenda inesquecivel.

A derrota é efemera mas é na humildade e na franca dor de a sofrer que nos apercebemos que até os nossos herois sao mortais que lhes reconhemos uma gloria eterna.

Ainda assim, o mais ironico esta no facto de eu so ter começado a admirar o Roger quando este encontrou um rival a sua altura e, ai, virei o meu "odio" para aquele que lhe retirou uma coroa que eu nunca lhe tinha reconhecido.

Mas...

Fico ainda mais espantado com a humildade deste puto maravilha que compensa a falta de tecnica (em comparaçao com o R, claro!) com uma força impar e que nao so nos pos em perspectiva um campeao que de outra forma um dia se haveria de despedir com o mundo inteiro a questionar o valor da sua gloria como tambem nos veio mostrar como vencer.

Quem nao viu nos olhos do Rafa, apesar de momentos antes ter ganho mais um Grand Slam, a tristeza de ver o seu rival perder? E ai e que esta o verdadeiro fair play. É jamais deixara de dar o seu maximo em atingir os seus proprios objectivos e, um dia, quando o Roger voltar ao topo estou seguro que lhe saberá melhor do que qualquer outra vitoria!

É daí que vem a grandeza deste desporto tao solitario, como tantos jogadores ja o afirmaram, e que tantas lendas tem criado.

Gostei muito do post meu velho!